Título: Dilma blinda setor elétrico
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/01/2008, O País, p. 3

PMDB leva Minas e Energia, mas Lula dá poder à ministra para nomeações estratégicas

Com a definição do nome do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para ocupar o Ministério de Minas e Energia, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, está autorizada a blindar cargos considerados estratégicos no setor elétrico, que estão sob sua influência. Dilma obteve do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a garantia de que ela manteria nomes de sua confiança em postos-chave da pasta e também de empresas estatais. Até quarta-feira, quando Lula convidará oficialmente Edison Lobão para o governo, o Planalto apresentará ao PMDB uma lista de cargos intocáveis.

Essa carta-branca do presidente à ministra não apenas ameniza a derrota de Dilma na queda-de-braço com o PMDB, como também tem o objetivo de dar mais segurança ao governo para enfrentar um eventual racionamento de energia.

Havia uma enorme resistência de Dilma à indicação de Lobão. Ela nunca escondeu a preferência pela escolha de um nome técnico. Essa é a segunda vez que Dilma perde uma disputa com o PMDB. Em junho, ela teve que abrir mão do comando de Furnas, por pressão da bancada do PMDB do Rio de Janeiro, que emplacou o nome do ex-prefeito Luiz Paulo Conde, um arquiteto.

Quando o senador José Sarney (PMDB-AP) - padrinho de Lobão - indicou o ex-ministro Silas Rondeau para o mesmo cargo, Dilma não criou caso. Era uma indicação política, mas ele tinha experiência na área de energia.

Decisão acirra disputa PT-PMDB

Mas a decisão do Planalto de blindar o setor elétrico deve provocar uma intensa disputa nos bastidores entre PT e PMDB. Até porque os petistas controlam os principais cargos da área energética. Na Casa Civil, a grande preocupação é que não haja descontinuidade de gestão. Isso poderia paralisar o setor num momento considerado crítico.

Para barrar a voracidade do PMDB em lotear todos os cargos, o Planalto vai argumentar que o problema não é com a qualidade técnica dos indicados do PMDB. Mas sim, com o risco de uma mudança acentuada dos principais postos de uma única vez. Isso porque até o novo grupo conseguir dominar a máquina administrativa, será tarde demais, dizia ontem uma fonte do governo.

Com a posse do senador Edison Lobão, que deve ocorrer na próxima semana, o principal embate será pelo cargo de secretário-executivo do ministério. Dilma quer manter no posto Nelson Hubner, que está atuando como ministro interino há quase nove meses. Lobão já manifestou a amigos que gostaria de ter neste cargo uma pessoa de sua confiança.

Na lista de intocáveis da chefe da Casa Civil no setor energético estão ainda o secretário de Energia Elétrica, Ronaldo Schuck, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Márcio Zimmermann, que tem a simpatia do PMDB, o diretor de engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, a diretora de Gás e Energia da Petrobrás, Maria das Graças Foster, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim.

Postos estratégicos excluídos do rateio

Dilma também quer manter o atual presidente da Eletrobrás, Valter Cardeal, numa diretoria da estatal. A ministra concorda que o PMDB indique os presidentes das estatais, mas diretorias estratégias não vão entrar no rateio político. Esta é a fórmula que o Palácio do Planalto encontrou para dar ao PMDB a pasta de Minas e Energia sem perder o controle. O PMDB já avisou que quer, e deve conseguir, nomear os dirigentes da Eletrobrás e Eletronorte, mas sem comando total. As reivindicações mais polêmicas não estão restritas ao PMDB, que além de Edison Lobão tenta emplacar mais 15 nomes. A negociação mais adiantada é em torno de Jorge Zelada para a influente diretoria Internacional da Petrobras. O nome dele já foi levado para a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) levantar a sua ficha. O deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) tenta emplacar no comando da Eletronorte o afilhado Lívio Rodrigues de Assis, que é diretor do Detran, no Pará.

Os dirigentes do PMDB sabem que não podem, nem devem, enfrentar Dilma Rousseff. Pelo menos agora não. Há no partido quem acredite que, Lobão empossado e afastado o risco de um apagão, o partido terá condições de brigar por outros cargos, além dos já liberados. Ontem, o presidente do partido, Michel Temer, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), voltaram a usar o tom conciliador, na tentativa de abafar o confronto público entre petistas e peemedebistas - já bastante acirrado nos bastidores.