Título: Mortalidade infantil cresce em 35 cidades do estado
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 13/01/2008, Rio, p. 19

Falta de assistência e de infra-estrutura para partos são principais motivos da perda de recém-nascidos.

Nos fundos da casa, a panela de pressão chega a desaparecer em meio à fumaça produzida pelo pequeno fogão a lenha. Em algumas horas, o feijão estará pronto para o almoço dos sete integrantes da casa. Já foram nove, mas a filha mais velha, de 16 anos, casou-se, foi embora, e já é mãe. Outro morreu ano passado com apenas 21 dias de vida. Sentada no sofá da sala, a dona-de-casa Janilce Aparecida da Silva, de 31 anos, relembra os dias que antecederam a morte de Janifer, irmã gêmea de Jamile. O caso da moradora do bairro Novo Horizonte, no município de Cantagalo, no Centro-Norte Fluminense, é mais um que se repete ajudando a pressionar a taxa de mortalidade infantil no interior do estado

Embora a taxa média tenha sido decrescente desde 1993 em todo o estado - caiu de 30 mortes para 16,6 em cada mil nascimentos -, em 35 das 92 cidades fluminenses o índice piorou de 2004 para 2005. Os números constam do Anuário Estatístico de 2007, elaborado pela Fundação Cide. Distante 15km de Cantagalo, Macuco encabeça o ranking. Os dados indicam que em 2005 havia 32,5 mortes de crianças com até 1 ano para cada mil nascimentos. A taxa cresceu 44% em relação a 2000, e 26% se comparado a 2004.

Em segundo lugar vem Cabo Frio (27,9), seguido de Barra do Piraí (27,1, mesmo com redução do índice) e Rio das Flores (25,6). Na capital, a taxa continua caindo: era 22,5/mil nascimentos em 1993, e em 2005 chegou a 14,7. Cantagalo, que ocupa o 21ºlugar no ranking, teve aumento de 21% na taxa. Passou de 16,7 para 20,3, em 2005.

A pesquisadora da Fiocruz especializada em neonatologia Maria Elizabeth Moreira explica que a mortalidade infantil causada por doenças infecciosas ou subnutrição vem caindo não só no Rio, mas no Brasil nos últimos anos. No entanto, as mortes de bebês por complicações no parto ou no período neonatal têm se mantida altas e, em alguns casos, subiram.

- Falta de assistência pré-natal e infra-estrutura inadequada para os partos e para o recém-nascido são algumas das causas da mortalidade infantil no estado. Reduzir a mortalidade perinatal exige aporte financeiro muito maior do que foi usado para reduzir casos de diarréia ou doenças infecciosas - diz Maria Elizabeth.