Título: Ministro: Não há risco de epidemia
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 14/01/2008, O País, p. 3

Após quarta morte sob suspeita de febre amarela, Temporão vai à TV tranqüilizar população

Bernardo Mello Franco

Após a morte de um quarto paciente com suspeita de febre amarela - o espanhol Salvador Perez, que faleceu anteontem em Goiânia - o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, fez ontem à noite um pronunciamento em cadeia de rádio e TV para tentar tranqüilizar a população sobre o risco de uma epidemia da doença. Ele descartou a hipótese de retorno do tipo urbano da febre, erradicado no país há 65 anos. Em nota, o Ministério da Saúde informou, porém, que as secretarias estaduais já enviaram 24 notificações de suspeita da doença desde o início da crise, em dezembro. Destes, dois foram confirmados e apenas cinco descartados, o que significa que existem mais 17 pessoas com suspeita da doença. Dessas, três morreram: um lavrador, o espanhol em Goiás e um empresário em Maringá (PR).

- Não existe risco de epidemia. O Brasil não tem casos de febre amarela urbana desde 1942. Os casos suspeitos estão localizados e restritos a áreas onde algumas pessoas não vacinadas entraram em florestas e matas nas últimas semanas - afirmou Temporão na TV.

Logo no início da crise, porém, o governo mandou o carro mata-mosquito imunizar a Granja do Torto, residência de campo do presidente Lula, em Brasília. Apenas dois casos foram confirmados em exames até agora: o do técnico em informática Graco Abubakir, morto na última terça-feira em Brasília, e o de uma paciente que está internada em São Paulo. Eles teriam sido infectados em matas de Goiás e Mato Grosso do Sul, respectivamente.

Enquanto o ministro gravava seu pronunciamento, a população enfrentava ontem longas filas para se vacinar em diversas cidades. Na nota, o ministério informou já ter distribuído, em todo o país, 3,23 milhões de doses desde 1º de janeiro. Em 2007, a média mensal foi de 961 mil doses por mês, num total de 11,5 milhões.

O crescimento do número de notificações - eram 15 semana passada - foi considerado normal pela Assessoria de Imprensa da Saúde e pelo professor Pedro Luiz Tauil, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília. Eles atribuem o fato à divulgação do assunto, que faz com que as secretarias fiquem mais vigilantes e rápidas no repasse de informações.

Apelo aos que não precisam da vacina

No pronunciamento, Temporão apelou para que os brasileiros que moram nas cidades e não pretendem viajar para áreas de floresta evitem congestionar os postos de saúde. Segundo ele, só deve se imunizar quem mora ou vai viajar para regiões com matas:

- Se você não mora ou não pretende viajar para estas regiões, não precisa se vacinar. Quem já se vacinou pode ficar tranqüilo: o efeito da vacina protege as pessoas durante dez anos.

Temporão afirmou na TV que os postos de saúde estão sendo abastecidos com a vacina e que as autoridades sanitárias "estão preparadas para atender a quem realmente precisa". O professor Tauil disse que não há evidências de transmissão do vírus pelo mosquito Aedes aegypti, que circula nas cidades e só pica seres humanos. Nos casos de febre amarela silvestre, o vetor responsável pela transmissão da doença é o Haemagogus, cujo principal alvo são os macacos. Tauil afirmou ainda que a alta nos registros de primatas mortos com sintomas da doença é cíclica e ocorre em intervalos de cinco a sete anos, quando os animais perdem imunidade ao vírus.

- Quando a mortalidade de macacos aumenta, o vírus circula mais nas áreas silvestres. Por isso, as pessoas não vacinadas que visitarem essas regiões ficam mais expostas à doença - explicou Tauil.

Nos últimos dias, agentes da Vigilância Ambiental do Distrito Federal localizaram o mosquito Haemagogus em cinco regiões de Brasília, entre elas o Jardim Botânico e o Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral. O parque foi reaberto ontem após 17 dias, mas só puderam entrar os visitantes que levaram seus comprovantes de vacinação.