Título: Brasil se prepara para exportar concentrado de urânio em 2014
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 14/01/2008, Economia, p. 14

Preço do minério, que há 6 anos custava US$12, chegou a bater US$135.

Ramona Ordoñez

O Brasil está se preparando para se tornar um exportador de concentrado de urânio, conhecido como yellow cake (pó amarelo), que é a primeira etapa de produção do combustível para usinas nucleares. A informação foi dada pelo presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho, ao explicar que a idéia é quadruplicar a produção atual, de 400 para 1,6 mil toneladas, a partir de 2012. Segundo o executivo, a lei que regula o setor no país só permite a exportação do combustível se houver excedente. Tranjan calcula que, a partir de 2014, esse excedente comece a ser gerado, já levando em conta a entrada em operação da usina nuclear Angra 3 em 2012 e de quatro a oito usinas até 2030, dependendo do crescimento do mercado.

O presidente da INB - empresa responsável pela produção do combustível para as usinas nucleares - disse que não será preciso autorização do Congresso para o país exportar urânio. Segundo o executivo, basta se criar excedente e ter autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o órgão regulador e fiscalizador das atividades nucleares no país:

- O atendimento do mercado interno é fundamental. Não pode haver um apagão de urânio no futuro.

Déficit de 50 mil toneladas anuais de urânio em 2021

Tranjan afirmou que o Brasil não pode perder essa oportunidade que se apresenta no mundo. Os preços do urânio aumentaram cerca de dez vezes nos últimos seis anos. De US$12 a libra (meio quilo), chegaram a custar US$135. Atualmente, o urânio está cotado no mercado internacional a US$90 a libra. Além disso, acredita o presidente da INB, a expectativa é que esses preços continuem elevados. Segundo dados internacionais, a expectativa é de um déficit de urânio de 50 mil toneladas anuais a partir de 2021 no mundo.

Para Tranjan, além de o Brasil só poder pensar em exportar os excedentes do concentrado de urânio, os recursos com as vendas externas somente poderão ser usados na ampliação do próprio ciclo do combustível. Com a construção da fábrica de conversão (que transforma o pó de concentrado de urânio em um gás, o UF6) e ampliação das demais unidades do ciclo, principalmente a do enriquecimento, o Brasil dará um salto em sua posição estratégica no mundo. De acordo com Tranjan, enquanto o concentrado de urânio está cotado a cerca de US$180 a tonelada, o urânio enriquecido está sendo vendido no mercado internacional por US$1.200 a tonelada.

- Nós temos tudo para sermos um importante exportador de urânio. Temos reservas suficientes não apenas para atender à nossa futura demanda, como a tecnologia para a produção do combustível - destacou Tranjan, ao lembrar que, além das 441 usinas em operação no mundo, há 13 em construção, e estão planejadas outras 60 até 2030.

O presidente da INB disse que a oportunidade é única e tem que ser aproveitada neste momento. Segundo ele, a expectativa é que a demanda pelo urânio no mundo vá até 2060, quando a tecnologia atual da fissão nuclear deverá ser substituída pela fusão nuclear.

Projetos já aprovados na Bahia e no Ceará

Para atender ao aumento da demanda futura, a INB já aprovou projetos de exploração. Um dos primeiros é a ampliação da capacidade de produção na mina de Caetité, na Bahia, das atuais 400 toneladas anuais de concentrado de urânio, que atendem à demanda de Angra 1 e Angra 2, para 800 toneladas a partir de 2012. Esse aumento virá da mudança da tecnologia e da expansão da área a ser minerada. O investimento nesse projeto está estimado em R$60 milhões.

Outro projeto em andamento é a produção de urânio na mina de Santa Quitéria, no Ceará. Nessa mina, o urânio está associado ao fosfato. Por isso, a INB está em processo de licitação, buscando um parceiro interessado em explorar o fosfato.

Segundo Tranjan, até meados de fevereiro a empresa deverá anunciar o sócio do projeto, que custará US$200 milhões para a exploração do fosfato e outros US$30 milhões para a exploração, pela INB, do urânio. Três empresas apresentaram propostas: Bunge, Galvani e Vale. Tranjan explicou que a expectativa é que Santa Quitéria produza 120 mil toneladas anuais de fosfato e 800 toneladas de urânio em 2012:

- Com o aumento da produção de concentrado para 1.600 toneladas a partir de 2012, estimamos que vamos começar a gerar excedentes exportáveis a partir de 2014, porque no início vamos precisar de um volume significativo para Angra 3.