Título: Clara e Emmanuel, enfim, juntos
Autor:
Fonte: O Globo, 14/01/2008, O Mundo, p. 18

Ex-refém das Farc chega à Colômbia e reencontra filho de quem foi separada na selva.

CARACAS

C hegou ao fim um dos mais comoventes dramas envolvendo vítimas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A ex-refém Clara Rojas e seu filho, Emmanuel, de 3 anos e 9 meses, se reencontraram ontem à noite numa casa na capital, Bogotá. O reencontro aconteceu três anos depois de os dois terem sido separados por guerrilheiros das Farc na selva colombiana - quando o menino, filho de um guerrilheiro e nascido no cativeiro, tinha apenas 8 meses.

- Eles já se encontraram. Foi um momento privado e de muita emoção - disse um funcionário de alto escalão do governo da Colômbia.

Clara foi libertada semana passada pelas Farc após quase seis anos seqüestrada. Ela voltou ontem à Colômbia após dois dias em Caracas. Após aterrissar numa base militar em Bogotá, Clara e sua família partiram para encontrar o menino. O reencontro estava previsto para acontecer na sede do Instituto Colombiano do Bem-Estar Familiar (ICBF), onde o menino vivia desde 2005, mas diante da presença maciça da mídia no local, a diretora do centro, Elvira Forero, decidiu mudar o local, optando por uma casa do instituto no noroeste de Bogotá.

Clara González de Rojas, mãe de Clara, e outros familiares a acompanharam no encontro, que ocorreu longe dos olhos da imprensa e levou mais de uma hora. A diretora do ICBF já havia dito que a adaptação do menino com a mãe deverá será fácil porque Emmanuel é "muito amoroso". Ela ressaltou, porém, que Clara não poderá levar logo a criança para a casa.

- Será necessário um período de preparação - alertou.

Momentos antes do reencontro, ao desembarcar em Bogotá, Clara disse:

- Estou imensamente comovida em regressar à minha terra. Vou ver meu filho ainda hoje (ontem), mas isso vai acontecer de forma privada - disse ela, acrescentando estar de posse de uma "coisinha" que Emannuel havia feito para ela, embora não tenha ficado claro se era um desenho ou outro tipo de presente.

Roupinha feita por Ingrid

Na chegada, Clara fez questão de lembrar Ingrid Betancourt, a então candidata à Presidência da Colômbia, da qual era companheira de chapa, com quem foi seqüestrada em 2002.

- O que mais queria era que ela estivesse hoje aqui. Com o apoio de todos, vamos fazer com que Ingrid e todas as pessoas ainda em cativeiro estejam aqui em breve.

A mãe de Emmanuel revelou que a primeira roupinha do menino foi feita por Ingrid, que cantava em francês para o bebê.

- Ela fez um casaquinho com lençóis azuis que ficou lindo. Trago na minha mala de recordações - contou Clara. - Guardo esta lembrança porque quero dividí-la com Yolanda (Pulécio, mãe de Ingrid) - disse.

Ao deixar seu hotel ontem pela manhã, em Caracas, Clara segurava uma foto de Emmanuel bebê. Ela garantiu que fará todo o possível para dar a ele todo afeto e educação necessários. A ex-refém agradeceu ao governo de Hugo Chávez pela ajuda na libertação e pela acolhida que ela e a ex-parlamentar Consuelo González receberam.

- Nasci de novo e voltei a viver. Muito obrigada, Venezuela.

Clara disse que agora vai se dedicar aos trâmites necessários para assumir a maternidade de Emmanuel, de modo a não causar maiores danos psicológicos à criança. Ao ser libertada, ela contou que as Farc lhe tiraram Emmanuel quando a criança tinha 8 meses. Ele foi levado pelos guerrilheiros para ser levado a um médico, já que tinha fraturado o braço no parto, com a promessa de ser devolvido à mãe em 15 dias. Clara, porém, só soube do paradeiro do filho há alguns dias.

Sua companheira de cativeiro, Consuelo González deve chegar à Colômbia hoje, trazendo provas da sobrevivência de outros oito seqüestrados, ainda em poder das Farc. São eles quatro parlamentares e quatro militares. A ex-parlamentar participou ontem do programa dominical de rádio, "Alô, presidente!", de Chávez.