Título: Divergências com Tuma Júnior provocam demissões no DRCI
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 15/01/2008, O País, p. 5

Secretário nega crise no órgão de combate à corrupção.

Alan Gripp

BRASÍLIA. Instrumento poderoso de combate à corrupção, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), ligado ao Ministério da Justiça, vive uma crise que já levou à queda de parte da cúpula do órgão. Semana passada, as duas principais diretoras do DRCI entregaram seus cargos por divergências com o secretário Nacional de Justiça, o delegado de polícia Romeu Tuma Júnior, como informa a revista "Veja", na sua edição desta semana.

Embora não tenham se pronunciado publicamente, funcionários do órgão acusam Tuma Júnior de interferir politicamente nas decisões do departamento. O secretário, por meio da assessoria do Ministério Justiça, negou as denúncias e disse contar com o apoio dos subordinados.

Na reportagem, "Veja"atribui parte das informações a funcionários do órgão que não se identificaram. E acusa Tuma Júnior de nomear sua mulher, Luciene, para um cargo no Ministério da Justiça. Ontem, o ministério confirmou que Luciene Cristina de Souza, delegada de polícia de São Paulo, como o marido, foi requisitada para trabalhar na pasta. Ela se apresentou semana passada à Secretaria Executiva, mas ainda não tem função definida.

O ministério informou que Luciene foi cedida pelo governo de São Paulo, sem ônus para o governo federal, e que sua transferência está amparada na lei que permite que servidores se licenciem de seus cargos e assumam nova função pública, para acompanhar o cônjuge. Tuma Júnior foi nomeado secretário nacional de Justiça em setembro, depois de negociação com o governo que incluiu a adesão de seu pai, o senador Romeu Tuma (PTB-SP), à base aliada.

Problemas teriam começado já na primeira reunião

De acordo com "Veja", as primeiras divergências de Tuma Júnior com a cúpula do DRCI teriam acontecido na primeira reunião entre eles. O secretário teria ordenado a realização de um levantamento sobre todas os casos investigados pelo departamento com o envolvimento de políticos. Tuma Júnior negou ter feito o pedido. Entre suas atribuições, o DRCI é responsável por monitorar e bloquear contas secretas de brasileiros no exterior, em parceria com os governos de outros países.

Semana passada, a diretora substituta, Carolina Yumi de Souza, pediu demissão depois de novos problemas. Tuma Júnior, novamente por meio de sua assessoria, informou que a saída foi acertada pelos dois após uma reunião, de forma amigável. Logo em seguida, Maria Rosa Guimarães Loula, que é titular do cargo, mas está de licença-maternidade, pediu demissão, por carta, em solidariedade a Carolina. As ex-diretoras não quiseram se pronunciar.

O ambiente no DRCI está ruim e pode piorar ainda mais. A consultoria jurídica do ministério estuda se há elementos suficientes para abrir um processo administrativo interno para apurar o vazamento de informações - que Tuma Júnior diz serem mentirosas - para a imprensa.

Tuma Júnior negou a acusação de que ele pretende esvaziar o DRCI, retirando de sua chancela o laboratório de combate à lavagem de dinheiro, inaugurado recentemente em Brasília. Segundo a assessoria do ministério, o laboratório permanecerá subordinado ao DRCI.