Título: A febre amarela foi expulsa das cidades
Autor: Temporão, José Gomes
Fonte: O Globo, 15/01/2008, Opinião, p. 7

A febre amarela não será banida do Brasil, mas o país tem todas as condições para evitar a contaminação de sua população. A situação parece contraditória, antes de se observar o momento pelo qual passamos. A doença saiu das cidades, mas continua a circular nas matas, nas florestas e no cerrado. O seu principal hospedeiro são os macacos. O homem contrai a doença ao entrar nessas áreas de risco.

O Brasil desenvolveu uma vacina 100% eficaz contra a doença, que é produzida pelo Ministério da Saúde, por meio da Fiocruz. A produção brasileira é referência e a maior em todo o mundo. A doença, portanto, pode ser evitada com uma visita ao posto de saúde. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, além de Maranhão, Minas Gerais, Sul do Piauí, Oeste da Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde a doença é endêmica ou existe risco de transmissão especialmente nas matas, a imunização faz parte do calendário básico de vacinação de crianças, sendo elas imunizadas a partir dos seus primeiros seis meses de vida.

Sob essa condição, as ações do poder público expulsaram a doença do meio urbano. Desde 1942, não há nenhum registro de febre amarela urbana. Já os casos silvestres vêm caindo gradativamente desde 2003. Em 12 anos, registraram-se 346 casos da doença no país. Todos de pessoas que não tomaram a vacina e entraram nas matas das regiões de risco.

A vacina garante ao indivíduo uma proteção por dez anos, não sendo necessário nem recomendado o seu reforço. Os governos federal, estaduais e municipais garantem a qualquer cidadão o acesso à vacina, embora tenham constatado que muitas pessoas estão procurando os postos de saúde sem uma real necessidade. São casos como o de cidades onde não há o risco de contaminação por febre amarela. Ou como em Brasília, onde mais de 600 mil pessoas em menos de 15 dias se vacinaram, muitas delas antes do período de vencimento da imunidade, de dez anos. A vacina tem um efeito de proteção, mas não é inócua, podendo causar reações indesejadas quando tomada além do necessário. Deve se vacinar quem mora nas regiões de risco e não se vacina desde 1999 ou que esteja de viagem para as áreas de mata dessas localidades. Vale lembrar que a imunidade só começa a valer a partir do décimo dia depois de tomada a vacina.

O fato de a febre amarela ter saído das cidades não significa que o sistema de vigilância em saúde se descuidou de acompanhar a circulação do vírus. Ora, o vírus está presente nas populações de macacos dentro das florestas. Estudos demonstram que o acompanhamento dessas mortes é uma ferramenta importante para verificar a possibilidade de a doença atingir humanos.

Nos últimos dez anos, o Ministério da Saúde verifica todas as mortes de macacos relatadas ou notificadas no país. Uma amostra desses animais é recolhida para análise em laboratório, quando é identificado que tipo de doença ou causa levou o animal ao óbito.

O que se verificou, no final de 2007 e início de 2008, foi o aumento das mortes de macacos em Goiás e no Distrito Federal. Em pouco mais de um mês, as notificações foram registradas por 55 cidades goianas e 24 localidades da capital federal. Para a vigilância em saúde, antes mesmo do resultado dos exames laboratoriais, a situação acende um sinal de alerta para a região, como possível circulação do vírus de febre amarela.

A população que não se vacinava há mais de dez anos foi chamada a comparecer aos postos de vacinação dessas localidades e os viajantes alertados sobre os riscos de contrair a doença ao entrar nas matas sem a imunização. A notícia se espalhou pelo país e causou agitação em diversas localidades.

O Ministério da Saúde reitera que não há perigo de que haja uma epidemia de febre amarela. Embora algumas notificações tenham vindo de cidades como a capital paulista, onde não há risco de febre amarela, a certeza é que os casos suspeitos e em investigação são exclusivos de pessoas que entraram nas matas do Norte e do Centro-Oeste.

Para atender às principais dúvidas sobre a febre amarela, o cidadão tem disponível um telefone de acesso gratuito. Pelo 0800 61 1997, as pessoas podem ter informações sobre a doença, quem deve se vacinar e onde a febre amarela está presente. É um serviço de esclarecimento que deve ser utilizado por todos os que ainda têm dúvidas sobre o assunto. No portal da saúde, www.saude.gov.br, o internauta também encontrará um hotsite sobre a doença e as principais informações referentes ao assunto.

A garantia do fornecimento das vacinas e a informação da população são as principais ferramentas do poder público para impedir que a febre amarela entre nas cidades. Vale dizer que, a cada caso notificado e a cada registro de morte de macaco, várias ações são tomadas para eliminar, por exemplo, mosquitos transmissores da doença das áreas próximas às residências de onde surgiu o caso suspeito e ao redor de onde a pessoa está sendo atendida, além da intensificação vacinal.

JOSÉ GOMES TEMPORÃO é ministro da Saúde.