Título: Candidatura está mantida
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 26/04/2009, Política, p. 3

Mercadante: recado de Lula ao PT previa doença de Dilma

Apesar do linfoma, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, continua sendo ¿a candidata¿. Foi esse o recado que o presidente Luís Inácio Lula da Silva procurou passar à cúpula petista durante a semana passada, quando já sabia da gravidade da doença. Não revelou o problema de saúde da ministra, mas tratou da estratégia da eleição em 2010 como quem já havia planejado atravessar os quatro meses de tratamento quimioterápico de Dilma sem permitir que sua candidatura fosse fragilizada ou contestada na base do governo.

Lula disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e ao secretário-geral da legenda, José Eduardo Cardozo (SP), que não é hora de Dilma subir em palanque, sequer polemizar com a oposição. Falou mais ou menos a mesma coisa para o líder do PT no Senado, Aloisio Mercadante (SP), que o acompanhou na viagem à Argentina. A prioridade Dilma, para Lula, são as tarefas da Casa Civil, principalmente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mesmo estando em tratamento de saúde, na próxima terça-feira, por exemplo, está na agenda a presença de Dilma na reunião de balanço da execução do PAC em Manaus. Lula quer que a ministra realize pelo menos uma reunião por região para apertar as cravelhas dos ministérios envolvidos na execução do PAC.

No Palácio do Planalto, a operação a que foi submetida há cerca de 30 dias foi tratada como um segredo de Estado. Somente o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ministro da Comunicação do governo, Franklin Martins, e o vice-presidente José Alencar, um campeão da luta contra o câncer, sabiam do problema. A informação, entretanto, começou a vazar por causa de sua passagem pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para extrair o caroço maligno na axila. Lula decidiu aproveitar a consulta de Dilma, em São Paulo, para revelar ao país o que estava acontecendo. A ¿bomba¿ de ontem foi anunciada de forma planejada pelo Palácio do Planalto, pela própria ministra, em grande estilo, com o nítido propósito de mostrar que Dilma é um exemplo de coragem e força para todas as mulheres e todos os pacientes que lutam contra um câncer.

Na cabeça do presidente Lula, o maior problema a ser enfrentado pelo governo não é a doença de Dilma, que segundo os médicos estaria domada. É o impacto da crise na economia, variável que começa a desgastar o governo e atingir a própria popularidade de Lula. O governo injeta dinheiro nas empresas, anistia dívidas, aumenta o crédito ao consumidor e faz projeções muito otimistas. Os indicadores econômicos, entretanto, não afastam o risco de uma recessão técnica neste ano. A doença, porém, gera solidariedade e descola a ministra da crise. E ninguém na oposição quererá abertamente usar o linfoma para atacar a ministra.