Título: Beira-Mar faz sua 19ª viagem depois de preso
Autor: Braga, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/01/2008, Rio, p. 9

Bandido vem ao Rio para audiência de processo sobre homicídio; deslocamentos já teriam custado R$855 mil

Foi a 19ª viagem desde sua prisão, em 2000, na selva colombiana. O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, esteve ontem à tarde numa audiência no Fórum de Bangu, acompanhando o depoimento de três testemunhas de acusação, no processo que ele responde, juntamente com mais 23 presos, por homicídio. No ano passado, a Federação Nacional de Policiais Federais calculou em R$45 mil o custo de cada deslocamento do traficante. Ou seja, até agora foram gastos R$855 mil com as viagens do criminoso.

Quatro presos foram mortos em rebelião em 2002

O processo foi aberto por causa da morte de quatro presos durante rebelião, comandada pelo traficante, em Bangu I, em setembro de 2002. Das oito testemunhas que deveriam comparecer, apenas três estiveram no fórum: dois agentes penitenciários e um presidiário. O juiz Alexandre Abrahão, titular da 1ª Vara Criminal, aguarda que as outras cinco outras testemunhas se apresentem numa nova audiência a ser marcada.

O traficante deixou o Presídio Federal de Campo Grande (MS) ontem de manhã. Escoltado por agentes federais, ele embarcou num avião da Polícia Federal (PF) para o Rio. Aqui, foi levado para a Superintendência da PF e, de lá, escoltado por agentes, em quatro carros, para o Fórum de Bangu, aonde chegou às 12h45m. Os depoimentos, que estavam marcados para as 13h, começaram uma hora depois e terminaram às 14h50m. Segundo um dos quatro advogados de Beira-Mar, Francisco Santana, seu cliente será impronunciado.

- As três testemunhas que foram ouvidas disseram que nada viram. Afirmaram ainda que Fernandinho tentou intervir, junto aos agentes penitenciários, para impedir uma invasão do presídio que resultasse numa matança de presos - disse o advogado. - Nenhuma testemunha disse que Fernandinho participou das mortes.

Beira-Mar tinha estado no Rio em 30 de outubro

Na rebelião de 2002, foram mortos os traficantes Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê; Carlos Alberto da Costa, o Robertinho do Adeus; Wanderley Soares, o Orelha, cunhado de Uê, e Marcelo Lucas da Silva, o Café, traficante do Morro da Andaraí. Celsinho da Vila Vintém sobreviveu. Na época, ele acabou entrando para a facção de Beira-Mar.

A última vez em que Beira-Mar tinha estado na cidade foi no dia 30 de outubro passado. Como ontem, ele foi escoltado por policiais federais. O traficante era réu num processo da 1ª Vara Criminal de Duque de Caxias sobre tráfico de drogas e formação de quadrilha. Como o Supremo Tribunal Federal garantiu ao traficante o direito de estar presente em todas as audiências de processos em que é réu, ele se recusa a prestar depoimento por meio de videoconferência.