Título: Marina Silva evita participar da comitiva
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 16/01/2008, O País, p. 3

Assessor diz que "essa agenda não é a dela"; propostas surpreendem ambientalistas.

BELÉM e BRASÍLIA.A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, trabalhava ontem normalmente em seu gabinete enquanto a comitiva de Mangabeira Unger informava, em Belém, que ela não acompanhava a visita à Amazônia por problemas de saúde. Segundo assessores, Marina, dedicou o dia a despachos internos com técnicos. O ministério não explicou oficialmente as razões de sua ausência no grupo governamental que começou ontem um périplo para expor propostas para a Amazônia. No entanto, uma pessoa ligada a Marina disse que ela recusou o convite por entender que as propostas de Mangabeira não são compatíveis com sua pasta.

- Essa agenda não é a dela, e a ministra não quer misturar suas políticas para a Amazônia com as de Mangabeira - disse o assessor.

Para não deixar as discordâncias transparecerem, Marina decidiu escalar três representantes para a comitiva: os diretores do Departamento de Articulação de Ações da Amazônia, André Lima; do Serviço Florestal Brasileiro, Tarso Azevedo; e da Agência Nacional de Águas (ANA), Bruno Pagnoccheschi.

ONGs ambientalistas ficam surpresas com idéias do ministro

O ineditismo das propostas de Mangabeira surpreendeu representantes de algumas das principais entidades ambientalistas do país, que não quiseram comentar as idéias. O superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto Scaramuzza, disse que prefere esperar a publicação dos projetos para analisar sua viabilidade. O Greenpeace também não se pronunciou, mas um dirigente da ONG na Amazônia afirmou que idéias como a construção de aquedutos para levar água para o semi-árido nordestino são de execução pouco provável.

- Não há uma linha sobre isso no Plano Plurianual. O governo anunciou a transposição do Rio São Francisco como prioridade há cinco anos, e só agora começou as obras - disse André Muggiati, coordenador de áreas protegidas da Campanha de Proteção da Amazônia do Greenpeace.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos principais defensores da causa ambiental no Congresso, também se esquivou de opinar diretamente sobre as idéias de Mangabeira. Ele comentou apenas que, em vez de ensinar línguas estrangeiras aos índios, o governo deveria usar os computadores do Sivam para sistematizar as línguas já faladas na Amazônia.

- Como as propostas são de um ministro do futuro, acho que vai haver tempo para se avaliar uma a uma, e ver se são importantes ou não - ironizou o deputado.

"Não acredito em modelos impostos de cima para baixo"

Embora tenha se esquivado de comentar diretamente as propostas de Mangabeira, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, fez ressalvas às idéias do ministro. Ele lembrou que iniciativas anteriores para a Amazônia já fracassaram por falta de sintonia entre as autoridades e os habitantes da região:

- Existe uma ineficácia muito grande. Um projeto de desenvolvimento sustentável só será feito por quem conhece realmente a Amazônia. Não acredito em modelos impostos de cima para baixo.

Empresários paraenses que ouviram o ministro reagiram com desconfiança às propostas, em especial à que prevê o aumento de taxas para a mineração no estado. No entanto, nenhum deles quis opinar sobre o projeto. O diretor de Articulação de Ações para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, André Lima, também preferiu não comentar as idéias, mas se disse simpático à abertura de um novo debate sobre a região.

- Essa é uma agenda positiva, porque reforça a estratégia do governo de desenvolvimento da Amazônia como solução para o desenvolvimento do país. Independentemente de as propostas serem novas ou não, polêmicas ou não - disse.

A viagem da comitiva capitaneada por Mangabeira segue hoje em Santarém e amanhã chega a Manaus, onde deverá se juntar ao grupo o ministro da Cultura, Gilberto Gil.