Título: Lupi quer criar representações no exterior para atender a brasileiros
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 16/01/2008, O País, p. 4

Segundo ministro, locais serviriam "um feijãozinho amigo para matar a saudade".

BRASÍLIA. Em meio à queda-de-braço com a Comissão de Ética Pública, que pediu sua demissão por se recusar a deixar a presidência do PDT, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou ontem planos de estender os domínios de sua pasta para o exterior. Prometeu criar, até o fim do ano, cinco representações do ministério em países com grande número de brasileiros. Estão na lista Estados Unidos, Japão, Itália, Portugal e um quinto país a ser definido. Batizados de casas do trabalhador, os postos devem servir para dar informações e apoio a imigrantes em dificuldades. Mas não só isso:

- Lá o brasileiro vai poder escutar música popular e comer um feijãozinho amigo para matar a saudade - disse Lupi, no lançamento da cartilha "Brasileiras e brasileiros no exterior".

Segundo ele, as casas do trabalhador vão prestar serviços que os brasileiros não encontrariam hoje nas representações diplomáticas do país:

- Essa casa do trabalhador é o meu sonho. Me cobrem, porque nós vamos fazer.

Lupi alegou que muitos brasileiros vivem como apátridas depois de deixar o país.

- Esses brasileiros são patriotas e precisam sempre lembrar da sua pátria - afirmou, antes de fazer elogios ao presidente Lula, que apoiaria o projeto. - Essa é a principal marca dele: saber sua origem e não se esquecer dos brasileiros que, como ele, tiveram muita dificuldade para subir na vida.

O Ministério do Trabalho não informou os custos da idéia, que não está discriminada no projeto de Lei Orçamentária enviado pelo governo ao Congresso. Após saber do plano, a assessoria do Ministério das Relações Exteriores informou que a assistência a trabalhadores brasileiros no exterior já é uma das atribuições de sua rede de consulados e embaixadas em todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas.

De acordo com estimativas oficiais, cerca de quatro milhões de brasileiros vivem no exterior. A cartilha, de 72 páginas, impressão em cores e tiragem inicial de 100 mil exemplares, faz recomendações para evitar problemas com autoridades estrangeiras. Em 2006, mais de 13 mil brasileiros foram deportados ou tiveram a entrada recusada em países estrangeiros - praticamente o dobro do registrado no ano anterior.

Ministro reafirma que não deixará presidência do PDT

Em mais um desafio à Comissão de Ética, Lupi reafirmou que não pretende deixar a presidência do PDT enquanto ocupa o cargo no governo. Ele disse esperar um parecer favorável da Advocacia Geral da União, que deve se pronunciar definitivamente sobre o assunto até o fim do mês. A Comissão já pediu a demissão de Lupi em carta enviada a Lula. A disputa se arrasta há quase sete meses. Lupi disse ainda não ter discutido o tema com Lula, que teria "assuntos mais importantes a tratar".

- Nenhuma interpretação de nenhuma comissão está acima da lei. Tenho muita honra e orgulho de ser presidente nacional do PDT, sucedendo a Leonel Brizola. Ninguém pode me cassar esse direito constitucional.