Título: Prejuízo do Citi derruba mercados
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 16/01/2008, Economia, p. 23

AMEAÇA GLOBAL

Banco tem perda de US$9,8 bi e anuncia demissões. Dow cai 2,17% e Bovespa, 3,67%.

Otemor de crise na maior economia do mundo voltou a abalar os mercados globais ontem. A divulgação do maior prejuízo da história do Citigroup, de US$9,833 bilhões, reacendeu a crise do subprime (hipotecas de alto risco), já que foi apenas o primeiro banco a divulgar seus resultados este ano. Dados da economia americana, como queda nas vendas do varejo e a maior inflação anual desde 1981 contribuíram para o nervosismo dos investidores.

Em Nova York, o Dow Jones caiu 2,17%, o Nasdaq, 2,45%, e o S&P, 2,49%. As ações do Citi caíram 7,3%. No Brasil, o Índice Bovespa (Ibovespa), da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), caiu 3,67% e voltou a ficar abaixo dos 60 mil pontos: 59.907. Nenhuma ação das que compõem o Ibovespa fechou em alta. O dólar comercial encerrou os negócios a R$1,753, em alta de 0,98%. O risco-país subiu 4,35%, para 240 pontos centesimais.

O prejuízo líquido de US$9,833 bilhões foi registrado no quarto trimestre de 2007, enquanto no mesmo período de 2006 a instituição teve lucro de US$5,129 bilhões. Além disso, o maior banco americano em ativos efetuou uma baixa contábil de US$18,1 bilhões, devido a perdas com subprime e alta nos custos do crédito nos Estados Unidos. Para ajudar a sanar as perdas, o Citi obteve junto a investidores uma injeção de capital de US$14,5 bilhões, por meio da venda de ações. Entre estes estão o príncipe saudita Alwaleed bin Talal e o ex-diretor-executivo do Citi Sanford Weill, além do governo de Cingapura - com US$6,88 bilhões - e fundos, inclusive do Kuwait. Esses US$12,5 bilhões se somam aos US$7,5 bilhões que o banco obteve em novembro com o fundo soberano de Abu Dhabi.

O banco de investimentos Merrill Lynch também passou o chapéu entre investidores ontem: obteve US$6,6 bilhões com a Autoridade de Investimentos do Kuwait, o Korean Investment Corp. e o japonês Mizuho Financial Group.

Citigroup reduz dividendos e vai vender Redecard no Brasil

O diretor-executivo do Citi, Vikram Pandit, afirmou em nota que os resultados "são inaceitáveis". Jon Fisher, gestor de recursos do fundo Fifth Third Asset Management, disse à TV Bloomberg que o Citi está "em um buraco fundo" e que levará "todo o ano de 2008" para sair dele.

O banco informou ainda que vai reduzir seus dividendos trimestrais em 41%, de US$0,54 para US$0,32, e demitir 4.200 funcionários. Ano passado já havia sido anunciado um corte de 17 mil. Segundo o diretor financeiro, Gary Crittenden, haverá mais reduções de pessoal. O Bank of America também anunciou ontem 650 demissões.

O Citi disse ainda que vai se desfazer de ativos não essenciais. No Brasil, irá vender parte do que possui na operadora de cartões de crédito Redecard, estimada em R$1 bilhão. Após o anúncio dos prejuízos, a agência classificadora de risco Standard & Poor"s (S&P) rebaixou os papéis do Citi, de "AA" para "AA-".

Em Havana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a perda do banco ao evitar comentários sobre a política interna cubana:

- Quem dá muito palpite quebra a cara. Vejam que acaba de ser anunciado o prejuízo de US$10 bilhões do Citibank. Eles que davam tanto palpite de como administrar os países, as coisas e, quando chega a hora de provar a sua competência, demonstram que não têm tanta competência quanto falavam.

Aumentando os temores de desaceleração nos EUA, as vendas no varejo caíram 0,4% em dezembro - tradicional mês de compras. E o governo informou que a inflação no atacado (pelo índice de preços ao produtor) recuou 0,1% em dezembro, mas fechou 2007 em 6,3%, o maior patamar desde 1981. Somou-se a isso a entrevista concedida pelo ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan ao "Wall Street Journal", em que afirma que os EUA provavelmente já estão ou entrarão em recessão.

Para o diretor de gestão da Meta Asset Management, Alexandre Hortsmann, o dado mais importante foi a queda nas vendas do varejo, que pode indicar que uma recessão estaria por perto. De fato, na segunda-feira a rede de TV CNBC afirmara que o Citi poderia anunciar uma baixa contábil de até US$24 bilhões.

- A definição formal de recessão são dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. Ainda não tivemos isso nos EUA, mas podemos estar próximos disso - alerta Hortsmann, para quem os cortes de juros do Fed ainda vão demorar para surtir efeito na economia americana.

Sua expectativa é que o crescimento seja retomado no segundo semestre, caso o primeiro e o segundo sejam já de recessão.

Os mercados estão preocupados ainda com futuras perdas a serem anunciadas pelos bancos. Ontem o Fed faz mais uma injeção de capital, de US$30 bilhões, no terceiro leilão de títulos dentro de uma operação conjunta com outros grandes bancos centrais. Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset Management, diz que ainda não é possível saber o tamanho das perdas com o subprime:

- Estão falando em descasamento entre a economia americana e a do resto do mundo, achando que outros países vão segurar o crescimento, mas essa tese não deu certo na bolha da internet. Esse otimismo me preocupa.

Estudo prevê Ibovespa em 81 mil pontos até o fim do ano

Como reflexo desses temores, o saldo de investimentos estrangeiros na Bovespa nos dez primeiros dias do ano está negativo em R$1,565 bilhão, contra R$1,150 bilhão no mesmo período em 2007. Ainda assim, estudo divulgado ontem pela Financial Investor Relations Brasil (Firb), com base em mais de 500 relatórios de 24 instituições financeiras, aponta que o Ibovespa pode chegar a 81 mil pontos no fim do ano, uma valorização de 26,79% em relação a 2007.

(*) Com agências internacionais