Título: Para colher os dividendos
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 26/04/2009, Política, p. 5

Lula trabalha pelo sucesso do programa de moradias populares e das mudança nas regras da poupança. Se não conseguir, reforçará a artilharia da oposição

O presidente quer empenho na aprovação de um crédito de R$ 6 bilhões para programa habitacional O governo se articula nos bastidores para impedir que dois ¿bons problemas¿ deixem de ser trunfos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na campanha de 2010 e passem a servir de munição à oposição na corrida sucessória. Os motivos do otimismo e, ao mesmo tempo, da apreensão são o Programa Minha Casa, Minha Vida, que prevê a construção de 1 milhão de moradias populares, e a mudança na rentabilidade da caderneta de poupança. Os dois temas têm apelo popular. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendem a render dividendos à ¿mãe do PAC¿ no próximo ano. A não ser que os governistas tropecem nas próprias pernas.

Lula e ministros festejam a repercussão do plano habitacional. Veem nas filas de interessados formadas nos municípios uma demonstração clara de que estão prestes a saldar parcela de uma dívida histórica com os mais pobres. Enxergam também na iniciativa a possibilidade de consolidar votos na camada social em que a avaliação positiva do governo é mais alta. ¿As filas demonstram que o programa vem ao encontro da demanda da população¿, diz um dos ministros mais influentes do governo. O discurso é otimista. O temor de Lula é que seja desmentido pelos fatos.

Na quarta-feira passada, o presidente se reuniu com líderes do PT e determinou pressa na aprovação do projeto que libera crédito de R$ 6 bilhões para a construção das casas. A mesma orientação foi dada ao ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. O presidente não quer que a falta de recursos e a burocracia impeçam a execução do projeto. Se isso ocorrer, a oposição terá mais uma frente para tentar desqualificar a capacidade gerencial de Dilma, ecoando discurso já entoado no caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A frustração do sonho da casa própria pode se reverter em votos contrários ao governo no próximo ano.

Poupança A mudança na remuneração da caderneta de poupança já é alvo de queda de braço política. Na semana passada, o PPS criticou a iniciativa em rádio e televisão: ¿O governo Lula vai mexer na poupança como fez o governo Collor¿. Para petistas, os adversários quiseram sugerir que haverá confisco dos depósitos. O PPS nega a insinuação. E o Planalto rechaça o confisco. Está se desenhando um embate de versões. A prioridade de Lula é vencê-lo. Para tanto, reforçará em público a tese segundo a qual a alteração na rentabilidade será necessária porque o país passará a ter uma taxa básica de juros (Selic) civilizada.

A Selic está em 11,25% ao ano. Se cair para cerca de 9%, como prevê o mercado, renderá menos do que a poupança. Diante desse cenário, esta passaria a atrair grandes investidores, os quais deixariam de aplicar em títulos da dívida e, assim, de financiar o governo. ¿A mudança na poupança é um bom problema, provocado pela queda dos juros. Manteremos a credibilidade e a proteção da economia popular¿, diz o senador Aloizio Mercadante (SP), líder do PT e conselheiro informal de Lula na área econômica. Segundo o presidente, a mudança na remuneração não prejudicará os pequenos poupadores.