Título: Juiz recusa proposta de acordo feita por Abadía
Autor: Calixto, Leandro
Fonte: O Globo, 17/01/2008, O País, p. 11

Traficante colombiano ofereceu até US$40 milhões em troca de extradição e da anulação de processo contra sua mulher

Leandro Calixto*

SÃO PAULO. O juiz federal Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, negou ontem proposta de acordo apresentada pelo traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, preso em agosto passado em São Paulo e processado por lavagem de dinheiro. Abadía ofereceu o pagamento de uma quantia entre US$30 milhões e US$40 milhões à Justiça e a delação de três comparsas. Em troca, o traficante queria a garantia por escrito de sua extradição para os Estados Unidos, e a anulação do processo em que sua mulher também responde por lavagem de dinheiro. A decisão sobre a extradição cabe ao Supremo Tribunal Federal.

Com um forte esquema de segurança, o colombiano, que está na penitenciária de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, chegou ontem à sede da Justiça Federal, em São Paulo. Ele ficou lá por mais de três horas. Durante a audiência para tentar o acordo, o juiz teria se exaltado com a exigência de Abadía.

- Infelizmente não houve acordo. Esse dinheiro poderia ter destinações sociais. Seria um valor que a sociedade brasileira não poderia abrir mão porque ele não estava pedindo em troca a soltura ou absolvição - disse a procuradora da República Thamea Danelon, que não se opunha ao acordo: - Ele preferiu ficar livre para proferir a sentença como achar melhor.

Em nota divulgada ontem à noite, o juiz justificou sua decisão dizendo que, no decorrer da audiência o preso demonstrou "não estar disposto a colaborar (com as investigações), mas apenas impor a condição de se afastar de presídio federal, de não cumprir pena no Brasil, mas apenas nos EUA". O juiz completou: "A Justiça não deseja dinheiro, tão-somente o esclarecimento dos fatos e o pagamento de uma indenização ou da entrega do produto do crime, sendo necessário haver confiança de parte a parte. Delação implica ser verdadeiro, estar com espírito aberto e intenção inequívoca de colaborar naquilo que for questionado, não cabendo limitar o universo do que deseja esclarecer".

Advogado do traficante diz que fará nova proposta

Fausto de Sanctis rebateu também o argumento do Ministério Público, favorável ao acordo, de que o dinheiro prometido pelo traficante poderia ser usado em projetos sociais. "Não está em causa o destino do dinheiro, mas sim o interesse da verdade de alguém que deseja falar de espírito aberto, que deseja contribuir de fato e não usar da delação para um benefício em detrimento da busca da verdade. A Justiça Federal brasileira tem de cumprir o seu papel diante dos seus limites legais e constitucionais e na defesa da sociedade brasileira."

O advogado de defesa de Abadia, Luiz Gustavo Maciel, também lamentou a decisão:

- O juiz entendeu que não poderia conceder esses benefícios previamente por escrito. Vamos estudar uma nova proposta de acordo.

Juan Carlos Abadía foi preso em um condomínio luxuoso de São Paulo em agosto de 2006. Com ele, a polícia apreendeu mais de R$6 milhões. O traficante tinha iates, fazendas e mansões e teria escondido no Brasil mais de R$100 milhões em um escritório em São Paulo. Ele é acusado de ter mandado executar mais de 200 pessoas na Colômbia.

* Do Diário de S.Paulo