Título: Bovespa fica abaixo de 59 mil pontos pela primeira vez desde setembro
Autor: Rangel, Juliana; Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 17/01/2008, Economia, p. 20

AMEAÇA GLOBAL: Temendo crise do crédito, China eleva compulsório de bancos.

Hong Kong tem maior queda desde 2001. Lucro do JPMorgan cai 34%.

RIO, PEQUIM e NOVA YORK. Ainda na sombra da ameaça de recessão nos Estados Unidos, com alerta da Intel e queda nos lucros de mais dois bancos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou ontem em queda de 1,89%, pela primeira vez abaixo dos 59 mil pontos desde 25 de setembro do ano passado. Com forte saída de estrangeiros, o indicador encerrou aos 58.777 pontos, com volume financeiro de R$7,298 bilhões. Em mais um dia nervoso, a Bovespa chegou a cair 3,05%. O dólar acompanhou o movimento e subiu 1,14%, a maior alta desde dezembro, para R$1,773.

Em Nova York, o Dow Jones recuou 0,28%, e o Nasdaq, 0,95%. Se na véspera o foco foi o Citigroup, ontem foi a Intel. Após o pregão de terça-feira, a maior fabricante de chips do mundo divulgou alta de 51% nos lucros, para US$2,27 bilhões, mas previu vendas menores neste início de ano, devido à desaceleração da economia global.

Além disso, o JPMorgan Chase informou ontem que seus lucros caíram 34% no quarto trimestre, para US$2,97 bilhões, contra US$4,53 bilhões no mesmo período de 2006. O banco também fez uma baixa contábil de US$1,3 bilhão devido às hipotecas de alto risco (subprime). Já o Wells Fargo registrou queda de 38% no lucro trimestral, para US$1,36 bilhão.

Com o temor de recessão nos EUA e refletindo as baixas de Wall Street na véspera, a Bolsa de Hong Kong caiu ontem 5,37%, a maior queda desde o 11 de Setembro. A Bolsa de Tóquio recuou 3,35%, e a de Xangai, 2,81%.

Ações de Vale e Petrobras caíram cerca de 4%

A forte saída de estrangeiros derrubou as ações de Vale e Petrobras, que, juntas, têm peso de 31% no Ibovespa, principal índice da Bolsa. As preferenciais (PN) da Vale caíram 4,54%, para R$45,15; e as da Petrobras, 3,76%, para R$74,60. A retirada também fez despencarem os papéis de empresas que estrearam no ano passado no pregão - quase todas as ofertas públicas iniciais registram participação majoritária de estrangeiros.

- O que agravou as perdas dessas empresas foi uma desvalorização das commodities em todo o mundo. É o temor de que a recessão atinja a demanda - disse o gestor de renda variável da Máxima Asset, Fábio Cardoso.

Para ele, os investidores internacionais devem continuar saindo da Bolsa:

- Haverá vários indicadores sobre a economia americana nos próximos dias, e o mercado está bastante preocupado. Por isso, os papéis que têm forte participação estrangeira na Bovespa sofrem mais.

Para Gustavo Barbeito, da Prosper Gestão de Recursos, está ocorrendo um ajuste do mercado brasileiro à real situação dos Estados Unidos:

- Desde agosto, a bolsa brasileira estava melhor que a americana porque não se acreditava no risco de recessão nos EUA. Com a probabilidade de que ela aconteça, passa a existir o medo de conseqüências para os emergentes.

O risco-Brasil caiu 1,68%, para 234 pontos centesimais.

Em entrevista à revista do "New York Times", a ser publicada no próximo domingo, o presidente do Federal Reserve (o BC americano), Ben Bernanke, afirmou que a crise de crédito "tem sido uma situação econômica desafiadora".

Por causa da crise de crédito, a China elevou ontem o depósito compulsório dos bancos de 14,5% para 15%.

(*) Correspondente, com agências internacionais