Título: Chávez acusa Colômbia de planejar matá-lo
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Fonte: O Globo, 17/01/2008, O Mundo, p. 27

Presidente venezuelano diz que governo colombiano é ameaça à paz e afirma que Uribe sabia de complô de oficiais

BOGOTÁ. Num agravamento da crise diplomática entre Venezuela e Colômbia, Hugo Chávez acusou ontem militares colombianos de planejarem o seu assassinato junto com oficiais americanos. O presidente venezuelano responsabilizou diretamente seu colega colombiano, Alvaro Uribe, afirmando que ele foi avisado do complô, e disse que a Colômbia é uma "ameaça" à paz. Minutos depois, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, pediu que Chávez "cesse as agressões ao país".

- Em Bogotá, num edifício... tenho as fotos, gravações e tudo... oficiais americanos com oficiais colombianos, militares, conspirando contra a Venezuela, conspirando para matar-me - disse Chávez, num evento em Manágua, na Nicarágua.

Chávez não apresentou provas sobre a suposta conspiração. Mas isso não o impediu de afirmar que ela teria como objetivo provocar uma guerra entre Venezuela e Colômbia.

- (Estão) conspirando para gerar um conflito armado entre Colômbia e Venezuela, conspirando com os paramilitares para atacar a Venezuela de mil maneiras: guerra econômica, guerra psicológica, fazendo (operações de) inteligência dentro da Venezuela, captando militares venezuelanos tentando seduzi-los, comprando, subornando, chantageando de dentro da Colômbia - acusou Chávez.

Governo colombiano pede respeito a Caracas

Chávez já acusara o governo americano de planejar seu assassinato, mas foi a primeira vez que ele afirmou que a Colômbia, país vizinho, tivesse tal intenção. Chegou a apontar o dedo diretamente para Uribe, dizendo que o alertou sobre o complô e o colombiano nada fez.

- Um dia demonstrei para ele, para Uribe, porque ele negava. Demonstrei porque infiltramos até os sapatos um dos tantos grupos que há na Colômbia conspirando contra a Venezuela. Acuso o governo da Colômbia de ser um instrumento e uma ameaça contra a integração e a paz de nossos povos.

As relações diplomáticas entre Colômbia e Venezuela atravessam sua pior crise em anos depois que Uribe cancelou, em novembro, a mediação de Chávez com a guerrilha colombiana para a troca de reféns por rebeldes presos. Ontem, Chávez chegou a dizer que Bogotá retardava a busca da paz por influência "do império americano":

- Eu acuso o governo da Colômbia de jogar uma estratégia de retardar (a solução para o conflito) por ordem do império.

A resposta de Bogotá veio sob a forma de uma nota do ministro do Exterior, Fernando Araujo. "O governo da Colômbia pede respeito ao presidente Hugo Chávez. O governo da Colômbia solicita ao presidente cessar as agressões ao nosso país", dizia o comunicado.

A crise ocorre no momento em que a diplomacia brasileira decidiu reforçar a posição de Uribe no cenário regional. Depois de elogiar a iniciativa de Chávez em prol da libertação dos reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Brasília agora reforça a posição de Uribe.

Segundo diplomatas, Uribe foi eleito legitimamente e o país não pode ter sua soberania abalada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de deixar isso claro quando reafirmou esta semana o papel de Uribe nas negociações com as Farc.

Embora já tenha se oferecido para ajudar no que for preciso nas negociações - pondo à disposição inclusive o território brasileiro para reuniões entre as partes - o Brasil não admite em hipótese alguma conceder às Farc uma classificação de grupo beligerante, como reivindica o comando da facção e Chávez. Isso significaria reconhecer que o país vive uma guerra civil.

- Não vamos dar às Farc um status que não existe, colocando o grupo numa posição equivalente ao governo colombiano - afirmou uma graduada fonte do governo brasileiro.

COLABOROU: Eliane Oliveira