Título: Lobão: Não há porteira fechada
Autor: Camarotti, Gerson; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 18/01/2008, O País, p. 3

BARGANHA NA ESPLANADA

Senador conversa com Dilma, nega risco de apagão e diz que manterá técnicos na pasta.

Um dia depois de convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Ministério de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) teve de se submeter às regras do Planalto para comandar o setor energético. Após longa reunião com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de manhã, Lobão afinou o discurso e afirmou que o ministério não será com "porteira fechada" - ocupação dos principais cargos por indicação política. Repetiu até o argumento da cúpula palaciana: não poderá mudar todos os cargos para não perder a memória da gestão de Minas e Energia.

As conversas com Dilma e com o ministro interino, Nelson Hubner, foram suficientes para convencer o novo ministro de que não há risco de crise energética. Há seis meses, Lobão fez um contundente discurso no Senado em que alertava para a possibilidade concreta de um apagão.

Ao final do dia, auxiliares do presidente estavam satisfeitos com a atuação e discurso de Lobão, certos de que ele fora enquadrado, e que será mais fácil monitorar a gestão do setor energético. Ontem à tarde, quando esteve com Hubner, o senador foi cauteloso e em nenhum momento entrou em conflito com o governo. Pelo contrário. Apesar da tentativa de mostrar que tem carta-branca, Lobão deixou claro que está afinado com as recomendações palacianas.

- Esse ministério não será de porteira fechada. É um ministério do PMDB, muitos cargos são do PMDB, mas haverá diretores de outros partidos também. Ninguém precisa ser truculento para governar, mas precisa ter autoridade - afirmou Lobão.

Ele disse que os critérios de indicação para os cargos da pasta serão os da "competência e da necessidade da presença desse funcionário na função em que está". Admitiu, porém, que o interesse do PMDB em ocupar vagas vai pesar. Lobão negou disputas entre PT e PMDB pelos cargos e disse que não houve pedido do Planalto para manter pessoas na pasta:

- Não houve nenhuma recomendação do presidente nesse sentido. Ele falou para eu formar livremente a equipe. É claro que não vou demitir, substituir toda a equipe. São técnicos que têm memória do ministério. Vou precisar ver quais devo substituir e quais devo manter.

"Não me sinto enfraquecido"

Segundo Lobão, Dilma não fez nenhum pedido pessoal para manter aliados nos cargos. Ele rebateu a idéia de que chega enfraquecido ao posto, por ser político, e não técnico, e pelas denúncias contra o filho, Edison Lobão Filho:

- Não me sinto enfraquecido. Fui convidado pelo presidente, e a Dilma me disse que nunca se falou em querer um nome técnico. Ela considera que o cargo de ministro é político.

O senador, que toma posse na segunda-feira, confirmou que Nelson Hubner não será o seu secretário-executivo. Mais cedo, o próprio Hubner, indagado pela imprensa se permaneceria no cargo, disse que não. E explicou:

- Vocês (se eu ficasse) iam falar: tá vendo, o ministro assumiu, mas não assumiu. Porque o secretário-executivo, o que era ministro, é do grupo da ministra Dilma.... Isso não é bom.

Hubner deverá, porém, assumir outro posto no governo, a convite de Lula.

Lobão sinalizou que o nome mais forte para o cargo é do atual secretário de Planejamento Energético, Márcio Zimmerman. Técnico de confiança de Dilma, ele tem boa relação com o PMDB e, em maio passado, foi cotado para assumir a pasta quando o ex-ministro Silas Rondeau foi citado na Operação Navalha e deixou o cargo. Lobão cogitou ainda trazer para o setor o ex-prefeito de São Paulo Miguel Colassuono (1973-1975), indicação do PMDB paulista e próximo ao ex-governador Orestes Quércia.

- O Colassuono é administrador de grande prestígio. Ele poderia vir a ser aproveitado em um órgão público. O Zimmerman é um dos nomes cotados para a secretaria-executiva. Nesse caso seria um upgrade - disse Lobão, acrescentando que os demais cargos serão discutidos em um prazo de 30 dias.

Tentando mostrar conhecimento técnico, Lobão disse que não há risco de apagão ou racionamento de energia. Disse ter relatos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) informando que chove no estado e "vai verter água nos reservatórios". E afirmou que o impacto da utilização das termelétricas, na conta de luz do consumidor, deverá ser pequeno se houver necessidade de usar essa energia:

- Se houver uma revisão (de preço), será no final do ano.

Em julho, Lobão alertou da tribuna para a possibilidade de apagão. Questionado ontem pelo GLOBO sobre a mudança de opinião, disse:

- É verdade que fiz um discurso preocupante. Mas alterei as minhas convicções. Não sabia das providências que estavam sendo tomadas pelo governo.