Título: Temporão: É irresponsável dizer que há surto
Autor: Beck, Martha; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 18/01/2008, O País, p. 8

Para ministro, febre amarela silvestre reaparece periodicamente; são 30 notificações, com 10 confirmações e 7 mortes

Martha Beck, Bernardo Mello Franco e Tatiana Farah

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou ontem que seria irresponsável dizer que o Brasil está passando por um surto de febre amarela. Embora sete pessoas já tenham morrido da doença nas últimas semanas, ele disse que o ciclo silvestre da febre amarela reaparece a cada seis ou sete anos e que o quadro atual é melhor do que o registrado em períodos anteriores.

- A situação está muito melhor. É irresponsável dizer que está havendo surto, que está havendo epidemia - disse Temporão.

O Ministério da Saúde recebeu ontem mais uma notificação de suspeita da doença, a 30ª desde o início do ano. Até agora foram descartados 11 casos, e o número de confirmações permaneceu em dez, contando as sete mortes. O núcleo de acompanhamento da febre amarela ainda investiga nove registros - entre eles, os de duas pessoas que morreram com sintomas da febre.

Macacos monitorados desde 1999

Temporão afirmou que o governo tem conduzido o assunto de forma adequada e que vem monitorando a morte de macacos contaminados pela doença desde 1999 para tentar entender o que leva o vírus a reaparecer num período como o atual. Ele levantou a possibilidade de fatores como o desmatamento nas regiões de risco estarem contribuindo para que o ressurgimento da febre:

- Nossa orientação é que pessoas que vão se dirigir a áreas de mata nas regiões Norte, Centro-Oeste e nas demais áreas afetadas tomem a vacina. Ela protege por dez anos, e tomá-la novamente pode fazer mal.

O ministro da Saúde disse ainda que a situação do Brasil está tranqüila em relação à febre amarela. Segundo ele, as pessoas afetadas pela doença até agora estiveram em áreas de risco sem ter sido vacinadas.

- Se você for analisar, foi um grupo de pessoas que adoeceram, todas elas sem vacina. Todas entraram em área de mata de risco e alguns óbitos estão acontecendo. A situação é tranqüila e não há nenhum risco de urbanização de febre amarela - disse o ministro.

Temporão afirmou que, enquanto o Brasil tiver mata, macaco e mosquito, vai existir febre amarela silvestre. Ele afirmou que o Ministério da Saúde está monitorando a situação e que a população está bem informada:

- Já foi vacinado 1,1 milhão de pessoas apenas na região de Brasília.

O Exército começou ontem a treinar cem homens para o combate ao mosquito Aedes aegypti na capital. O inseto é transmissor da dengue e da febre amarela urbana, que segundo o Ministério da Saúde continua sob controle. Eles devem começar a atuar na próxima segunda-feira, sob a supervisão de agentes da Vigilância Ambiental do Distrito Federal.

Três suspeitas descartadas em São Paulo

Em São Paulo, está confirmado o caso de febre amarela de uma paciente de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, que esteve internada em um hospital local, mas já se recupera em casa. Ela contraiu o vírus quando passava férias em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Esse caso é um dos dez já confirmados pelo ministério ontem.

Outros três casos suspeitos foram descartados. Uma das suspeitas descartadas é o caso de um caminhoneiro de São Bernardo do Campo, também no ABC. Suspeitava-se que ele fora picado pelo mosquito transmissor da febre amarela silvestre durante uma viagem a Rondônia. O caminhoneiro continua internado, mas os sintomas evoluíram, segundo o boletim médico, para pneumonia.

Em Santa Bárbara d"Oeste, perto de Campinas, Ramiro Fonseca, 23 anos, está internado desde o dia 13 na Santa Casa. Como tinha viajado para Goiás, região endêmica da doença, não era vacinado e apresentava sintomas como febre e dores fortes de cabeça, a Secretaria Municipal de Saúde reportou o caso ao governo federal e solicitou exames do Instituto Adolfo Lutz. Os resultados foram negativos.

O terceiro caso afastado é de um paciente de Ribeirão Preto. Em Descalvado e São José do Rio Preto, duas pessoas aguardam exames para saber se têm a doença. Há suspeitas aguardando confirmação também em Santo André e São Caetano.