Título: Em Manaus, Mangabeira ouve críticas ao governo
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 18/01/2008, O País, p. 11

"Preferi ser imprudente do que evasivo. Nenhuma idéia é tão radical que deva ser desconsiderada", diz ministro.

MANAUS. No terceiro dia de sua viagem pela Amazônia, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, defendeu com afinco suas propostas de longo prazo para o desenvolvimento sustentável da floresta e, desta vez, recebeu a solidariedade do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que reforçou a comitiva. Mangabeira, porém, passou boa parte do tempo ouvindo uma chuva de apelos e algumas críticas de empresários, autoridades locais, cientistas, e até de um general do Exército pela falta de atenção do governo com problemas que emperram o desenvolvimento da região amazônica - entraves que não necessariamente diziam respeito à sua pasta.

O muro das lamentações foi inaugurado pelo governador do Amazonas, Eduardo Braga, aliado do presidente Lula. Num debate com a comunidade científica, ele elogiou a iniciativa da caravana capitaneada pelo ministro, mas pediu investimentos de médio prazo em infra-estrutura (de energia e transportes) e educação; incentivos fiscais; e a resolução de amarras à economia do estado. Após a reunião, Braga citou como exemplo uma briga que diz estar travando com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que, segundo ele, impede a Delta Airlines de criar um vôo diário ligando Xangai, Atlanta e Manaus.

- A China hoje é o segundo país que nos dá mais visitantes. Sabe o que representa resolver esse pequeno problema? Antes de grandes projetos, precisamos resolver questões práticas - reclamou o governador.

Outros participantes do debate foram menos diplomáticos, como o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, Odenildo Teixeira Sena, que reclamou da falta de propostas realistas.

- Tudo o que foi dito casa com o que gostamos de ouvir, mas é recorrente. Mas há muita hipocrisia nesse discurso, muito marketing em cima da Amazônia. É preciso transformar isso em projetos.

Mangabeira ouviu em silêncio. Quando teve a palavra, defendeu o documento em que apresentou planos polêmicos como a exploração controlada da floresta, o desenvolvimento das comunidades indígenas e a construção de um aqueduto para levar água da Amazônia para o semi-árido nordestino:

- Ao divulgar o documento, fiz uma opção: preferi ser imprudente do que ser evasivo. Nenhuma idéia é tão radical que deva ser desconsiderada.

Mas coube a Gil uma defesa mais enfática das propostas de longo prazo. Perguntado se a Amazônia tem tempo para esperar tanto, respondeu, exaltado:

- Só tem. Ações de curto prazo representam mais depredação.

Polêmicas à parte, os encontros feitos por Mangabeira foram, na maior parte do tempo, descontraídos. Até na hora das reclamações. O general Ítalo Avelino, gestor do orçamento do Exército na Amazônia, arrancou risos da platéia ao fazer seu protesto contra a burocracia que atrasa a liberação de recursos:

- Como gestor de orçamento, sempre digo: se eu tiver que ser penalizado, que eu seja preso, porque multa não tenho como pagar.

O clima pesou quando a deputada Vanessa Graziottin (PCdoB-AM) lamentou a ausência dos ministros Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Marina Silva (Meio Ambiente), que haviam confirmado presença, mas faltaram. Geddel, que está de férias, divulgou nota dizendo que enviou representantes.