Título: Procurações falsas reforçam suspeitas
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/01/2008, O País, p. 3

Para Receita Federal, Lobão Filho ainda controla empresas investigadas por sonegação.

Novos fatos sobre o intrincado esquema de funcionamento das empresas da família Lobão, no Maranhão, explicitam as contradições de Edison Lobão Filho (DEM), que deverá assumir a vaga do pai no Senado. A posse do senador Edison Lobão (PMDB) como ministro de Minas e Energia é segunda-feira. Agora, são procurações falsas que reforçam a suspeita de que Lobão Filho ainda tem o controle das distribuidoras de bebidas que respondem a processo por sonegação de R$42 milhões, das quais diz que se desligou em 1998.

Três anos e meio depois de Lobão Filho ter deixado oficialmente a sociedade na Bemar Distribuidora de Bebidas, seu tio, Neuton Barjona Lobão Filho, continuava atuando na firma, beneficiado por procurações outorgadas por Maria Lúcia Martins e por José Luiz Ferreira Gomes. Maria Lúcia é uma empregada doméstica que teve sua assinatura falsificada tanto para se tornar sócia da distribuidora quanto para passar a procuração. O Ministério Público do Maranhão acredita que Ferreira Gomes é um laranja que gere e administra a empresa com Marco Antonio Pires Costa e Marco Aurélio Pires Costa, amigos de Lobão Filho.

Empresário afirma desconhecer falsificações

As procurações, como atesta laudo da Receita Federal de agosto de 2006, são falsas, o que pode complicar ainda mais a defesa de Edinho, como é conhecido o filho do futuro ministro. Ele disse, por meio de sua assessoria, desconhecer o fato.

Além disso, mesmo insistindo que se desligou da sociedade em outubro de 1998, em 2006 o nome de Edinho constava no cadastro da Bemar na agência 1.062 do Bradesco, o que lhe dava poderes para movimentar recursos. A Receita constatou, por exemplo, que nos anos-calendário de 2001, 2002, 2003 e 2004 a firma entregou sua Declaração de Imposto de Renda com formulário destinado às companhias inativas.

Embora figurasse como empresa sem atividade, a Bemar teve grande movimentação financeira, como confirmou a Receita. Além de contas no Bradesco, manteve movimentação no Banco Rural. Os beneficiários das transações foram o tio de Lobão Filho e os irmãos Marco Antonio e Marco Aurélio.

A investigação mostrou problemas na Bemar desde o início. A Receita atestou que as assinaturas das testemunhas da composição acionária eram falsas. Outra irregularidade: o endereço que constava como sua sede, em Bacabal, interior do Maranhão, não existia. Um de seus futuros sócios, José Luiz Ferreira Gomes, teria como endereço a mesma rua da Bemar em Bacabal, mas ele, Gomes, também não foi localizado.

Até fevereiro de 1997, Lobão Filho era o único responsável pela gerência da sociedade. Só nessa data é que uma das cláusulas contratuais foi alterada para incluir na administração Ana Maria dos Santos, que teve a assinatura falsificada quando de sua inclusão na empresa, e Maria Luiza Thiago de Almeida, então mulher de Marco Antonio Pires Costa. Ana Maria é ex-sogra de Marco Aurélio, e morava em São Paulo.

Edinho sempre negou que soubesse das falsificações das assinaturas ou que uma de suas sócias era uma doméstica. Em nota divulgada no início da semana, disse que seu verdadeiro sócio é Marco Antonio, e que seria ele o responsável pela transferência das cotas para uma pessoa que não tinha condições financeiras.

Marco Antonio, contudo, não aparece como sócio em nenhuma empresa, muito menos na Bemar. O Ministério Público investiga esquema de sonegação de mais de R$42 milhões envolvendo, além da Bemar, a Itumar Distribuidora de Bebidas. As duas firmas tiveram o mesmo endereço. Lobão Filho nunca figurou oficialmente como sócio da Itumar, mas o Ministério Público desconfia que ele seja sócio oculto. Marco Antonio e Marco Aurélio são os representantes também dessa empresa. Lobão Filho também teve sociedade com Ana Maria numa transportadora, a Transamérica Transportes. Como na Bemar, a assinatura dela era falsa. A sociedade ocorreu antes de Lobão Filho abrir a Bemar. Sua assessoria informou que a empresa nunca funcionou de fato e que fora criada para distribuir as bebidas da Bemar. Ontem, por meio da assessoria, Lobão Filho negou as irregularidades. Disse que seu tio, Neuton Lobão, trabalhou com ele na Bemar e ficou lá depois que deixou a sociedade. Ele disse não ter conhecimento de que o tio foi beneficiado por procurações falsificadas. E afirmou que foi sócio de Marco Antonio apenas na Bemar.