Título: Bovespa tem perda de R$141 bilhões em 3 dias
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 19/01/2008, Economia, p. 21

AMEAÇA GLOBAL: Ações de grandes empresas, como Petrobras, Vale, Perdigão e Gerdau, sofrem efeitos da crise.

Índice da Bolsa de São Paulo recuou 7,16% na semana, por causa de preocupação com recessão nos EUA.

RIO e NOVA YORK. O medo da recessão e o impacto dos créditos imobiliários de alto risco dos Estados Unidos sobre grandes bancos - combinação que sacudiu as bolsas no mundo todo nesta semana - fizeram estragos no Brasil. Nos três dias em que fechou em queda, de terça a quinta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu R$141 bilhões em valor de mercado, passando de R$2,370 trilhões para R$2,229 trilhões. Ontem, seu principal índice, o Ibovespa, subiu 0,82%, mas acumulou perda de 7,16% na semana e de 8,28% nos três dias de queda.

A Petrobras, a maior companhia listada na Bovespa, chegou a encolher R$44,9 bilhões, passando de um valor de mercado de R$355,7 bilhões para R$310,8 bilhões, com desvalorização de 12,6% entre terça e quinta-feira. A Vale, outra gigante da Bolsa, perdeu R$15,4 bilhões no período. No fechamento de segunda-feira, era avaliada em R$236,2 bilhões. Já na quinta-feira, valia R$220,8 bilhões: 6,5% a menos.

Cálculos feitos pela Prosper Gestão de Recursos a pedido do GLOBO também apontam uma perda de valor de mercado de 13,9% da Perdigão e de 13,33% da Gerdau, no topo das que mais sofreram.

- Em termos percentuais, a Vale sofreu menos porque está envolta por notícias positivas. Especialmente em relação à perspectiva de reajuste do preço do minério de ferro - diz o gerente de análise do Prosper, André Segadilha.

Na Europa, queda por causa de bancos e seguradoras

A expectativa foi um dos motivos que levaram a Bolsa a subir ontem, diante das fortes altas de ações do setor de mineração. Os papéis preferenciais (PN) da Vale subiram 3,17%, para R$47,17. Os da Usiminas, 6,52%, para R$80,53. Juntas, elas têm peso de 15% no índice.

- A média do mercado aposta em um aumento no preço entre 35% e 50%, com chances de que o reajuste fique no maior patamar - explica o sócio-diretor da Rio Gestão, André Querne.

Durante a manhã, a Bovespa chegou a subir 2,17%. Mas, logo depois do pronunciamento do presidente dos EUA, George W. Bush, recuou à mínima do dia, com perda de 1,39%.

- A percepção imediata do mercado foi de que ele propôs uma ação que levará um longo prazo para surtir efeito, quando ele já nem estiver mais no governo. Além disso, o pacote ainda vai depender de negociação com a oposição. E o mercado precisa de uma solução de curtíssimo prazo - disse um analista de uma corretora, que preferiu não se identificar.

No entanto, no meio da tarde, a Bovespa se descolou do mercado americano e subiu, puxada por empresas ligadas à mineração e pela Petrobras, cujas ações PN tiveram alta de 1,76%, para R$72,10. Os papéis da empresa, no entanto, acumularam queda de 11,27% na semana.

O dólar fechou em queda de 0,11%, negociado a R$1,787, mas subiu 2,17% desde a última sexta-feira. Já o risco-Brasil subiu ontem 0,80%, para 250 pontos centesimais.

A preocupação de que o esforço da Casa Branca para impulsionar a economia possa não evitar uma recessão fez as bolsas de valores dos Estados Unidos caírem pelo quarto dia seguido. O índice Dow Jones, referência da Bolsa de Nova York, recuou 0,49% e o Nasdaq, 0,29%. O Standard & Poor"s 500 caiu 0,60% e teve a pior semana em cinco anos, com queda de 5,41%.

As empresas do setor financeiro absorveram a maior parte da queda, mais uma vez, com o temor sobre a contaminação dos problemas nas hipotecas de alto risco (subprime). Elas foram acompanhadas pelo setor de telecomunicações, que caiu após a Sprint Nextel anunciar grande redução de assinantes e 4 mil dispensas. As ações da Sprint caíram 25%.

A recuperação do começo do dia, puxada pelos fortes lucros da IBM e da General Electric e pela alta inesperada da confiança dos consumidores, evaporou depois que Bush anunciou o pacote.

As bolsas européias fecharam em queda pela quarta sessão consecutiva, derrubadas por bancos e seguradoras, que registraram desvalorização em meio a preocupações sobre a crise do setor imobiliário. Investidores também receberam de forma negativa, no primeiro momento, o pacote de estímulo dos EUA. Enquanto Londres ficou quase estável (queda de 0,01%), Frankfurt recuou 1,34% e Paris, 1,25%.

As ações do Société Générale, segundo maior banco francês, caíram por rumores de que sofreria baixas contábeis por causa da crise do subprime. Os papéis caíram 14% este ano.

(*) Com agências internacionais