Título: Seqüestros das Farc na Venezuela
Autor:
Fonte: O Globo, 19/01/2008, O Mundo, p. 26

Guerrilha colombiana fez ao menos 279 vítimas no país de Chávez em 2007.

Do El Tiempo*

Ainda que em seu último programa "Alô, presidente" Chávez tenha assegurado que nem as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nem o Exército de Libertação Nacional (ELN) tenham em seu poder seqüestrados venezuelanos, as estatísticas das autoridades colombianas e da Federação de Pecuaristas da Venezuela (Fedenaga) relatam que 68 cidadãos do país estariam nas mãos da guerrilha, alguns há vários anos. Essa situação tem sido utilizada como argumento por pessoas que criticam o papel de protagonista do presidente Hugo Chávez no tema do intercâmbio humanitário colombiano.

Segundo os números oficiais do Ministério do Interior venezuelano, foram realizados seqüestros em 20 dos 24 estados do país. No ano passado, a Fedenaga registrou 279 vítimas - 94 delas eram pecuaristas que, segundo a federação, em sua maioria foram levados pelas Farc.

Genaro Méndez, presidente da organização, afirma que o fenômeno dos seqüestros na Venezuela piorou nos últimos dois anos.

- O cenário tem piorado porque o governo não assumiu uma linha política de enfrentamento contra os seqüestradores, pelo menos no caso dos crimes cometidos pela guerrilha colombiana - diz Méndez.

De acordo com o dirigente, nos últimos oito anos a guerrilha mudou de estratégia e deixou de assumir a autoria dos seqüestros.

- Isso também reforçou a criação de grupos que se fazem passar por guerrilheiros ou por paramilitares, e esse delito se converteu num crime comum no submundo.

Manuel Heredia, vice-presidente da Fedenaga, assegurou que "muitas famílias na Venezuela recebem cartas das Farc exigindo o pagamento de resgate".

- É insultante que o presidente (Chávez) diga, sem sequer conceder o benefício da dúvida, que nenhum venezuelano está nas mãos da guerrilha - afirma Heredia.

Alejandro García, vereador de Ureña no estado venezuelano de Táchira, tornou públicos três casos de seqüestro, dois deles perpetrados pelas Farc. Ele afirma que tudo indica que o terceiro também é de responsabilidade da guerrilha.

Ainda que os seqüestros tenham deixado de ser uma exclusividade da zona fronteiriça com a Colômbia, o delito continua a ser cometido em maior número nos estados limítrofes. Zulia (77), Táchira (34) e Barinas (31) são os mais afetados pelas quadrilhas de seqüestradores.

- Já não estão mais delimitados os espaços, como era antes - afirma Méndez, que pede ao governo do seu país que "pelo menos peça às Farc para negociar também a libertação de venezuelanos".

Vice diz que Colômbia pode negociar

O vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos, disse que melhoraram as condições para que o governo e as Farc negociem a troca de reféns por guerrilheiros presos. Segundo ele, a libertação de Clara Rojas e Consuelo González, semana passada, deu às Farc algum "oxigênio político":

- Acredito que o clima que está sendo criado abrirá portas para algum tipo de negociação.

Santos frisou, porém, que de forma alguma será permitido que Chávez participe dessa negociação, e também negou que o governo vá criar uma zona desmilitarizada, como as Farc exigem. Além disso, os criminosos soltos não poderão voltar para a guerrilha.

- Se eles aceitarem essas condições e a Igreja Católica conseguir entrar em contato com eles, acho que pode haver um raio de luz - disse ele, em Londres. - A pressão da sociedade colombiana contra eles está crescendo devido às terríveis condições dos reféns, quase como num campo de concentração.

As polêmicas declarações de Chávez sobre as Farc e as acusações sem provas de que há um complô de colombianos para matá-lo provocaram uma rara unanimidade política em torno do presidente Álvaro Uribe. Os principais partidos opositores declararam apoio ao governo.

O esquerdista Pólo Democrático Alternativo qualificou de "agressões" as acusações contra Uribe e seu presidente, Carlos Gaviria, disse que a conduta de Chávez foi "inadequada". Até mesmo deputados como Gustavo Petro e Antonio Navarro Wolff, que foram guerrilheiros do antigo M-19, criticaram Chávez e apoiaram Uribe.

O ex-presidente colombiano e opositor César Gaviria também saiu em defesa de Uribe. Ele é o líder do oposicionista Partido Liberal, da senadora Piedad Córdoba:

- Esperamos dos outros países respeito e apoio à democracia colombiana. Não nos opomos à cooperação internacional, nós a necessitamos e a queremos. Mas nos termos que defina a Colômbia, seu governo - disse Gaviria, que se reuniu ontem com Uribe.

*El Tiempo faz parte do Grupo de Diários América

Com agências internacionais