Título: Canetada contra a farra
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 28/04/2009, Política, p. 04

Enfim, Temer convence deputados que insistiam em manter o privilégio de usar cotas de passagens aéreas para viajar com parentes

Depois de muito recuo e amplas chiadeiras políticas, a novela da farra das passagens aéreas deve acabar mesmo numa canetada da Mesa Diretora, e não mais em votação de um projeto de resolução pelo plenário. A decisão foi tomada após deputados defensores da permissão do uso por parentes desistirem da ideia.

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), oficializa a proposta em reunião com os líderes de governo e oposição hoje. O peemedebista disse que a unanimidade lhe dará respaldo para fazer as mudanças via ato da Mesa Diretora. A consulta informal com todas as lideranças sobre a proposta foi feita e o sinal verde está garantido. ¿Se todos os líderes estiverem de acordo, as regras serão feitas por ato da Mesa¿, disse o presidente da Câmara.

Nos bastidores a proposta pró-parentes tem até entre adeptos, algumas lideranças, mas num acordo firmado para fortalecer o presidente da Casa, todos decidiram apoiar a sua iniciativa. ¿Se apresentarmos para votação a emenda dos familiares, além de estar trombando com o Michel Temer, estaremos prestando um desserviço e criando um hiato definitivo com a opinião pública¿, disse o deputado Silvio Costa (PMN-PE).

Defensor mais fervoroso da proposta dos familiares, Costa chegou a dizer num discurso inflamado que a proibição de Temer iria levá-lo a se separar de sua mulher. Agora, o tom foi outro: ¿Estamos num profundo desencontro com a opinião pública brasileira. Estamos sangrando, efetivamente, com uma hemorragia crônica¿, afirmou o pernambucano. ¿Percebi que a nossa tese, a de trazer as esposas, ficou muito pequena diante da importância desta Casa¿, acrescentou em discurso da tribuna para explicar a nova posição.

Temer também teve de explicar por que retomar a primeira proposta de decidir tudo na canetada da Mesa. ¿Houve uma reação vigorosa do plenário e a maneira mais democrática que eu encontrei era votar em plenário. Sem essa reação, não serei eu que a levarei ao plenário¿, disse o presidente da Câmara.

Proposta Desde o fim da semana passada, havia fortes negociações para evitar a votação em plenário e a apresentação da emenda que liberaria os familiares. Para tentar pressionar os deputados favoráveis à proposta, Temer e alguns membros da Mesa Diretora cogitaram colocá-la em votação nominal depois de aprovar as mudanças de maneira simbólica.

A pressa em encontrar uma solução é conter comparações com o Senado que já tomou votou projeto para acabar a farra. Apesar de a Câmara ter corrido para apresentar as sugestões a fim de acabar com a farra, ela patina na hora da decisão. Temer propôs redução de 20% nas cotas de passagens aéreas e limitou o uso ao deputado e um assessor previamente indicado. Famílias e terceiros estão vetados. A proposta acaba com a cumulatividade dos créditos. E manteve-se a permissão de viagens ao exterior desde que as autorizações sejam tomadas caso a caso.

Sobre o deputado Eugênio Rabelo (PP-CE), que usou, segundo a Folha de S.Paulo, a cota aérea para bancar 77 bilhetes de 27 jogadores do Ceará Sporting Club, Temer afirmou que ¿muito provavelmente¿ o caso vá para a Corregedoria.