Título: A polêmica sobre a Amazônia
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 20/01/2008, O País, p. 14

Na semana passada, o ministro das Ações de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger, levou uma comitiva de 38 pessoas numa viagem à Amazônia, onde propôs, entre outras medidas, a construção de um aqueduto para levar água da região ao Nordeste do Brasil. Num documento com dez páginas que distribuiu no primeiro dia da viagem, Mangabeira listou um conjunto de propostas polêmicas, que, segundo ele, têm como eixo principal um modelo econômico com espaço para atividades como a mineração e a produção industrial e, ao mesmo tempo, a preservação da mata nativa.

A exploração controlada da floresta, com a "utilização rotativa das árvores, compensada por replantio equivalente", é outra idéia. Segundo ele, nas áreas já desmatadas não haveria replantio, mas o desenvolvimento de projetos de agricultura familiar e até de pecuária em pequena escala.

O ministro propôs também parcerias entre empresas e governos para garantir aos índios educação em outra língua, além da nativa, e em outra cultura. Ele também sugere a formação de profissionais especializados nas questões da Amazônia, com incentivo para que morem na região.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi convidada, mas evitou fazer parte da comitiva. Segundo um assessor, a ministra discorda das propostas de Mangabeira. Ambientalistas, ONGs e parlamentares também criticaram o projeto do ministro para a Amazônia.

Ainda durante a viagem, após apresentar suas propostas num encontro com empresários, autoridades locais e cientistas, o ministro foi obrigado a ouvir uma série de críticas e apelos da platéia pela falta de atenção do governo federal com problemas que emperram o desenvolvimento da região amazônica. Mangabeira ouviu as críticas em silêncio e, no fim, disse: "Ao divulgar o documento, fiz uma opção: preferi ser imprudente a ser evasivo. Nenhuma idéia é tão radical que deva ser desconsiderada".