Título: Fórum Social prioriza agora questões locais
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 20/01/2008, O País, p. 16

Evento desta vez acontecerá em um único dia, simultaneamente, em todo o mundo; no Brasil, sete cidades participarão.

As tribos antiglobalização voltam a se mobilizar em conjunto, mas agora de forma pulverizada. Um ano depois da edição em Nairóbi, no Quênia, o Fórum Social Mundial (FSM) acontecerá este ano em apenas um dia, simultaneamente, em todo o mundo. Apesar da novidade, um dos focos permanece: o Fórum Social continua pretendendo ser um contraponto ao Fórum Econômico de Davos. Para isso, acontece este ano no dia em que se inicia o encontro na Suíça - 26 de janeiro, já chamado de Dia de Mobilização e Ação Global do FSM.

A descentralização, explicam os participantes, é para dar visibilidade a questões locais e atende a reivindicação de integrantes de movimentos sociais que não conseguiam viajar até os países-sede do Fórum, que já foi realizado em Porto Alegre, de 2001 a 2003; em Mumbai, na Índia, em 2004; outra vez em Porto Alegre, em 2005, e na Venezuela, em 2006.

- A globalização está mostrando seus limites ambientais e sociais. A gente nunca quis ter um diálogo com Davos, para onde vão os donos do mundo. Nossa intenção é ser um contraponto. É dizer que há outras maneiras de ver o mundo - diz um dos integrantes do comitê Rio do Fórum Social, Cândido Grzybowski, diretor do Ibase, referindo-se à preocupação com a violência e questões sociais.

No Brasil, haverá atividades em sete cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Belém, Porto Alegre, Natal e Fortaleza). No dia 26, das 10h às 19h, no Aterro do Flamengo, o comitê Rio do Fórum Social realizará o evento Rio com Vida, com sete tendas e quatro palcos; haverá debates, apresentações culturais, teatrais, musicais, de artes cênicas, leitura de poemas, apresentações de vídeos e fotografias. O encontro, com entrada franca, será encerrado com um show do cantor Martinho da Vila.

Grzybowski espera que a mobilização atraia milhões de pessoas no mundo. A edição que mais teve participantes foi a de Porto Alegre, em 2006, com 155 mil pessoas. Em 2007, foram 74 mil pessoas.

- Ao se movimentar pelo mundo, o Fórum ficou limitado. Estamos, agora, estimulando esse enraizamento local. Mas claro que temos buracos na nossa mobilização. Há lugares, por exemplo, em que não dá para fazer quase nada, como nos países do Leste Europeu - afirma Grzybowski.

Haverá eventos em 18 países, além do Brasil. Pela primeira vez, o México promoverá encontros. Na Colômbia, haverá reuniões em Bogotá e em Cartagena. A Venezuela - palco de uma das primeiras demonstrações de força do presidente Hugo Chávez, em 2006, que utilizou politicamente o FSM - também terá encontros.

- Um risco para nós é não conseguir dar visibilidade para a diversidade. É engano achar que as pessoas são apenas contra determinadas coisas. Elas querem explicar sua experiência, sua alternativa. Já é difícil que se tenha a fotografia completa de um evento como o de Nairóbi. Imagina agora com atividades espalhadas. Vai ter coisa que a gente nem vai saber que aconteceu - admite Grzybowski.

Para organizador, não haverá um único debate

Não haverá uma questão central, que unifique os debates, acredita o organizador. No Brasil, a questão ambiental, a desigualdade e a violência rural e urbana devem dar o tom das discussões. Em 2009, o FSM volta a ser centralizado. A sede escolhida é Belém, no Pará.

Nos últimos cinco anos, foram feitas pesquisas com 14.820 entrevistados nas edições do Fórum. O percentual de pessoas de 14 a 35 anos nunca foi menor do que 56%. Em Porto Alegre, em 2005, 70% dos participantes tinham até 35 anos. A elitização, segundo os organizadores, fica clara quando a questão é o grau de instrução: em todas as edições, média de 73% dos entrevistados fez ou estava cursando o ensino superior.