Título: Primeiras obras já começam a aparecer
Autor: Doca, Geralda; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 20/01/2008, Economia, p. 34

Fundo da Caixa Econômica vai investir R$700 milhões em saneamento.

BRASÍLIA. Lançados entre 2004 e 2007 como uma opção para financiar obras de infra-estrutura a um custo mais camarada em relação ao dos bancos, os fundos de investimentos em participações (FIP) já estão se transformando em obras. Ao todo, os mais importantes fundos voltados para esse setor já têm à disposição R$4,25 bilhões, para atender um cardápio variado, que vai desde a energia, passando pelo saneamento, portos e ferrovias. A expectativa é que se expandam ainda mais em 2008, na esteira das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Em fevereiro, o recém-criado Fundo Caixa Ambiental começará a procurar projetos. Administrado pela Caixa Econômica e tendo como gestor o banco Banif, contará com R$700 milhões para gastar em saneamento ambiental e esgotamento sanitário. Já o fundo Angra Partners fechou este mês seu primeiro investimento: a participação na construção de uma mega-usina de etanol no Maranhão, que permitirá antecipar o projeto de 2012 para 2010.

Por trás desses investimentos estão os fundos de pensão, particularmente os bilionários ligados às estatais Banco do Brasil (Previ), Caixa Econômica Federal (Funcef) e Petrobras (Petros). Com patrimônio de R$420 bilhões, os fundos estão garantindo parte dessas obras, opções ideais para substituir os títulos do governo, cada vez menos rentáveis. A taxa de retorno estimada com os projetos de infra-estrutura é de 11% a 14% ao ano, mais a inflação - a taxa básica de juros está em 11,25%.

- São oportunidades interessantes de rendimento, uma vez que os juros menores dos investimentos em renda fixa reduzem nosso ganho - diz Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, que administra um patrimônio de R$32 bilhões.

Em geral, os FIPs - espécie de condomínio de investidores - entram como fonte complementar de obras privadas e públicas, já que não há empreendedor que tenha dinheiro para bancar integralmente os projetos. Por exemplo, ainda não há decisão, mas a Funcef deverá participar da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira - um investimento de cerca de R$9,5 bilhões -, por meio do fundo AG Angra Partners, e não mais pela participação direta.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base, Paulo Godoy, comemora o crescimento dos FIPs:

- É uma forma de o investidor privado entrar no setor, com garantias e com a certeza de rentabilidade de longo prazo.

Outra forma de garantir a rentabilidade desses fundos é um exame rigoroso dos projetos. Eles têm de ser sólidos e rentáveis, passam por auditorias e não podem embutir riscos políticos ou legais.

- Há investidores estrangeiros interessados nesse setor e não tenho a menor dúvida de que esses fundos vão perdurar por muito tempo - diz o diretor da financeira Rio Bravo, Fernando Buarque.

Disputa entre cotistas e gestores deve chegar ao fim

Até o ressurgimento atual desses FIPs, eles tiveram vida curta no Brasil. Praticamente vingaram entre 1996 e 1998, e participaram das privatizações no período, em especial a venda da Telebrás. Foi a polêmica envolvendo os fundos de pensão e o Opportunitty, do banqueiro Daniel Dantas, que levou esses fundos a desaparecerem do mercado desde então. A nova modelagem a partir de 2003 tenta evitar que se repita a disputa entre os cotistas dos fundos e seus gestores. Quem manda agora é o cotista. (Gustavo Paul).