Título: Lula: braços abertos para Lobão
Autor: Damé, Luiza; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2008, O País, p. 3

BARGANHA NA ESPLANADA

Ministro afirma que consultará Dilma Rousseff, mas não será tutelado por ninguém.

Numa cerimônia concorrida, mas sem a presença do senador José Sarney (MA) que patrocinou a indicação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ontem ao novo ministro de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), afirmando várias vezes, em discurso, que o país não corre risco de enfrentar um novo apagão elétrico. Disse que o ministro assume num momento auspicioso do setor energético, elogiou o maranhense e negou que tenha ficado chateado com sua indicação, diante da série de denúncias envolvendo seu filho Edison Lobão Filho e as empresas da família. Reconheceu, no entanto, que não foi uma escolha pacífica no governo.

- A sabedoria da política está no fato de você saber construir as alianças com os contrários, construir as parcerias dentro das adversidades. Ninguém precisa torcer para o mesmo time ou ter a mesma religião. O que precisamos é ter uma única coisa: compromisso com este país - disse, ao justificar a aliança com o PMDB.

O presidente elogiou as qualidades políticas do ministro e afirmou que o país terá orgulho de sua gestão:

- Eu estou convencido de que você exercerá a sua pasta com a grandeza da sua carreira política e vai desmontar uma série de preconceitos que se cria neste país - disse. - Com sua clareza política, você saberá detectar dentro do setor energético brasileiro a chamada inteligência viva, e montar um ministério que possa ser motivo de orgulho para o nosso país.

Lula chamou de insinuações as informações de que não estaria satisfeito com a indicação de Lobão:

- Houve insinuações de que eu estaria chateado. Só pode pensar isso de mim quem não me conhece. Aprendi a manter relações políticas de maior respeito com aliados e adversários. Na medida em que um companheiro é indicado por um partido político a mim me reservo o direito de receber as pessoas de braços abertos.

E, dirigindo-se a Lobão, disse que de nada adiantaram as suspeitas:

- Certamente a tua vida foi levantada, colocaram muita lupa para pesquisar tua vida e, depois de tanto tempo na política, alguns adversários vão ter de dormir dizendo: não adiantou, o Lobão virou ministro.

Ministro diz ser fiel a Lula e ao PMDB

Lobão só discursou no ministério, onde recebeu o cargo do ex-ministro Nelson Hubner. E fez questão de demarcar seu território, alvo da ciumeira do PT e da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Fez um discurso otimista, negando a possibilidade de racionamento, e se disse o detentor da sabedoria política, mais importante que o saber dos técnicos do setor.

Ao agradecer a Hubner, fugiu do discurso escrito e, de improviso, avisou que ninguém vai tutelá-lo. Lobão disse que, com sua humildade, poderá ouvir e consultar a ministra Dilma. Mas sua fidelidade será exclusiva ao presidente Lula e ao PMDB:

- Tentou-se a todo instante fazer intrigas entre eu e ela. A ministra Dilma jamais indicou ou vetou nomes para o ministério. Dizem que ela está tutelando o ministério, mas eu digo que ninguém tutela o ministro das Minas e Energia, a não ser o presidente Lula.

Em entrevista, Lobão voltou a dizer que Dilma não irá monitorar ou influenciar suas decisões. E a colocou no mesmo patamar do ex-ministro Silas Rondeau, afastado após ser citado na Operação Navalha:

- Sempre que necessário, com minha humildade, vou ouvi-la e consultá-la. Como também vou consultar o Hubner e o Silas, técnico de grande conhecimento e capacidade, cidadão honrado e respeitado.

COLABOROU Gustavo Paul