Título: Jobim autoriza volta das escalas em Congonhas
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 22/01/2008, O País, p. 5

Ministro revoga restrições impostas após acidente da TAM e descarta construção de terceira pista em Guarulhos

BRASÍLIA. Depois de seis meses, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, atendeu os pedidos das companhias aéreas e autorizou ontem a retomada dos vôos com escalas e conexões no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O terminal também voltará a receber vôos fretados no fim de semana. As novas regras entram em vigor em 16 de março e revogam as restrições impostas três dias após o acidente com o Airbus A320 da TAM, em julho do ano passado. Jobim disse ainda que está descartada a construção da terceira pista no Aeroporto de Guarulhos - obra prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo.

Apesar das mudanças, o uso do terminal de Congonhas continuará limitado a 34 slots (operações de pousos ou decolagens) por hora. Jobim alegava que a presença de escalas e conexões provocava a sobrecarga do aeroporto, mas decidiu suspender a medida após o fim de ano tranqüilo no terminal. Ao anunciar as novas regras, o ministro negou que o pacote de restrições após o acidente tenha sido exagerado:

- Naquele momento, a medida se justificava. Havia um caos absoluto no controle. Tínhamos falta de comunicação entre os órgãos responsáveis. Isso (o fim do caos) só se conseguiu com o congelamento de Congonhas.

Jobim: segurança dos vôos não será afetada

Jobim afirmou que o afrouxamento das regras não vai afetar a segurança dos vôos no aeroporto. Ao anunciar a retomada das escalas e conexões, o ministro admitiu que as companhias já estavam burlando as regras impostas pelo governo.

- O que se observou no fim do ano foi uma situação completamente curiosa. O passageiro que ia de Porto Alegre para Brasília comprava dois bilhetes. Então, ele tinha que descer, retirar as bagagens, fazer novo check-in e voltar para o mesmo avião - relatou Jobim.

Apesar de estar prevista no último balanço do PAC, divulgado pela Casa Civil em setembro, a construção da terceira pista de Guarulhos foi descartada definitivamente. O governo avaliou que o custo seria alto demais e decidiu optar por soluções mais modestas: a abertura de novas 27 vagas no pátio de aeronaves e a construção de saídas rápidas nas cabeceiras das pistas.

Segundo Jobim, as medidas aumentarão a capacidade do aeroporto de 45 para 54 slots por hora. A longo prazo, o governo mantém o plano de construir um novo terminal em São Paulo, em local que ainda não foi definido. Mas o projeto será caro - só a compra do terreno e a terraplanagem foram pré-orçadas em R$2 bilhões - e não sairá do papel em menos de seis anos.

A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, aprovou o fim das restrições em Congonhas, mas disse que o setor deve continuar atento à segurança no terminal.

- O que o governo fez há seis meses foi um show pirotécnico, que causou sérios transtornos para passageiros e tripulantes - criticou.

Os empresários do setor receberam as novas regras com entusiasmo. O diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), comandante Ronaldo Jenkins, elogiou o fim das restrições, que classificou como drásticas e pesadas. No entanto, manifestou preocupação com o fim dos planos de construção da terceira pista de Guarulhos.

- A demanda de passageiros continua crescendo, e, em dois anos, os aeroportos de São Paulo já devem estar operando novamente no limite. Precisamos de uma solução rápida - disse.