Título: Sem-terra invadem fazenda de Abadía no RS
Autor: Barros, Higino; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 22/01/2008, O País, p. 8

Ação aconteceu de manhã, e à tarde propriedade foi comprada por R$850 mil em leilão.

PORTO ALEGRE e SÃO PAULO. Cerca de 300 famílias integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) invadiram ontem a fazenda Finca, em Guaíba, a 30 quilômetros da capital gaúcha. A propriedade, com 129 hectares, pertencia ao narcotraficante Juan Carlos Abadía e foi leiloada ontem à tarde, com outras duas propriedades do colombiano no Brasil, em pregão eletrônico realizado pela 6ª Vara da Justiça Federal de São Paulo.

Também foram vendidos uma casa em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, e um sítio em Pouso Alegre (MG). O valor arrecadado chegou a quase R$2 milhões, um terço a menos que os R$3,11 milhões avaliados inicialmente pela Justiça.

A fazenda ocupada pelo MST tem casa principal com dois andares, piscina e seis açudes, e foi comprada por um morador de Bauru (SP), única pessoa que fez lances no leilão. Ele arrematou o imóvel por R$850 mil, mesmo valor do lance inicial, mas inferior à avaliação de R$1,7 milhão feita pela Justiça. Segundo o leiloeiro Renato Moisés, responsável pelo pregão, havia muitos interessados na propriedade, mas a invasão do MST pode ter provocado desistências. Ele, contudo, considerou o leilão bem sucedido:

- Na primeira tentativa, não conseguimos sua venda. Agora tivemos uma oferta de R$850 mil, um valor bastante válido, já que isso tira a necessidade do Estado de arcar com despesas de manutenção, segurança e outras, na propriedade - disse o leiloeiro.

O MST gaúcho justificou a invasão da propriedade de Abadía como uma ação para obrigar o governo federal a incluí-la no programa de reforma agrária. Os sem-terra garantem que só deixarão a propriedade após conseguirem seus objetivos. A superintendência regional do Incra, no entanto, disse em nota que a fazenda não apresenta viabilidade de exploração agrícola e pecuária, e por isso a instituição não participou do leilão.

A fazenda foi invadida por cerca de 500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, que chegaram ao local às 5h da madrugada, em nove ônibus. Rapidamente, dezenas de barracas foram construídas.

Um dos chefes do MST em Guaíba, João Amaral, disse que a fazenda comprada com o dinheiro do tráfico teria que ser desapropriada pelo governo federal para reforma agrária:

O superintendente da PF, delegado Ildo Gasparetto, disse que só está esperando uma posição da Justiça Federal para traçar um plano de ação:

- Vamos tomar as medidas cabíveis. Só aguardamos o pedido de reintegração de posse da propriedade.

* Especial para O GLOBO