Título: Lula diz estar tranqüilo, mas de olhos abertos
Autor: Damé, Luiza; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 22/01/2008, Economia, p. 17

AMEAÇA GLOBAL: Meirelles fala em "medidas preventivas", mas analistas descartam alta de juros pelo Banco Central

Presidente reúne equipe econômica para avaliar efeitos da crise e cobra de EUA que evitem contágio a outros países

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve ontem - pela manhã e no início da noite - reuniões com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, para avaliar os efeitos da crise americana. Lula afirmou que o governo está com "os dois olhos bem abertos", mas se disse tranqüilo em relação ao impacto das turbulências no Brasil. Para Lula e a equipe econômica, o mundo se frustrou com o pacote fiscal anunciado sexta-feira nos EUA, que, cobrou o presidente, devem assumir a responsabilidade de evitar que seus problemas prejudiquem os demais países.

- Nós não temos nenhuma razão para não estarmos tranqüilos. Por enquanto, estamos certos de que essa crise talvez seja alguma frustração pelo anúncio do pacote que não contentou nem os americanos - afirmou Lula.

O presidente fez questão de responsabilizar os EUA:

- Tem países da América Latina e da África que passaram praticamente 30 anos (com a economia estagnada) e agora encontraram o caminho do crescimento. Não é possível que, agora, as pessoas que não têm nenhuma casa nos EUA, que não fizeram nenhuma hipoteca, paguem pela crise, pela irresponsabilidade de alguns que resolveram ganhar dinheiro fácil.

Guido Mantega: "dia foi quase de pânico"

O governo deixou claro que agirá rapidamente caso o perigo de contaminação aumente. Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, a autoridade monetária está pronta a implementar "medidas preventivas":

- O BC está monitorando isso (crise internacional) atentamente e, como fez no passado, sempre que for necessário, toma medidas. Mas são medidas preventivas, para evitar problemas no futuro - afirmou Meirelles.

Ele procurou, porém, não ser alarmista:

- Em seus relatórios, o BC já deixava claro que seu cenário básico contemplava a hipótese de um quadro externo adverso. Portanto, estamos preparados.

Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) termina sua primeira reunião de 2008, e os analistas não acreditam que o BC vá subir a taxa de juros, hoje em 11,25% ao ano.

Mantega admitiu que ontem "o dia foi quase de pânico". Mas considerou que isso não significa que a situação vá se repetir nos próximos dias. Afinado com Lula e Meirelles, salientou que a crise deve ter pouca repercussão no país:

- O Brasil nunca esteve tão preparado para enfrentar uma situação de crise internacional.

Na avaliação do presidente do BC, o Brasil tem alguns trunfos: os regimes de câmbio flutuante e de metas de inflação, aliados à responsabilidade fiscal. Meirelles lembrou ainda que o Brasil é credor em divisas internacionais, importante posição em momentos de alta do dólar.

Mantega ponderou que o maior risco para o Brasil seria para o comércio exterior, com uma redução das exportações ou uma queda nos preços das commodities agrícolas e metálicas.