Título: Em cenário mais grave, plano B seria alta da Selic
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 20

BC brasileiro poderia elevar juros para evitar fuga de capitais, mas taxa deve ser mantida.

BRASÍLIA. A equipe econômica está mais do que nunca de olho nos desdobramentos da crise internacional, com o temor de que os Estados Unidos podem de fato entrar em recessão e afetar todo o crescimento mundial. Por enquanto, porém, a ordem é apenas observar, sem tomar atitudes precipitadas ou que possam surpreender o mercado.

O governo sabe que tem nas mãos instrumentos que podem ajudar a blindar o Brasil dos efeitos de uma crise nos mercados mundiais. Um deles é a taxa básica de juros Selic, hoje em 11,25% ao ano. Se necessário, num cenário de maior turbulência, o Banco Central (BC) puxaria a Selic para cima, para evitar fuga de capitais.

Mas, na situação atual, a expectativa do mercado coincide com a do governo: o BC não deve mexer na taxa na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom). Ainda mais agora que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) decidiu reduzir a taxa básica local para 3,5% ao ano.

A equipe econômica do governo brasileiro recebeu com alívio a decisão dos EUA, mas também voltou a atenção para uma possível aceleração na entrada de investidores estrangeiros no mercado nacional.

Com juros menores nos EUA, os investidores buscam alternativas que rendam mais. Como o Brasil tem uma das maiores taxas do mundo e risco baixo, pode ser um dos principais alvos. Com mais divisas de fora, o real tende a se valorizar. Por isso, há temor de que as exportadoras brasileiras percam competitividade.

Governo fala em expansão de 3% a 5% em 2008

A equipe econômica continua avaliando que o crescimento do Brasil em 2008 não será muito afetado pela crise. O argumento é que o ano começou com o forte impulso de 2007, que deve apresentar crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços no país) acima de 5%. Só com essa inércia, avaliam os técnicos do governo, a expansão deste ano seria de, no mínimo, 3%. O BC aposta em expansão de 4,5%. A Fazenda fala em 5%.

No anúncio do balanço do primeiro ano do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou para responder à charge de Chico Caruso, publicada no GLOBO de ontem:

- Gostaria de aproveitar este momento para desmentir a charge em que aparecemos, Paulo Bernardo (Planejamento) e eu, arrancando os cabelos por causa da crise externa. Isso é falso, inclusive por falta de condições - disse, rindo.