Título: Mercado doméstico e reservas são trunfo
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Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 21

Economia mais fechada e endividamento menor funcionam como blindagem financeira.

Reservas internacionais que quase superam a dívida externa. Economia em expansão que pouco depende do mercado externo. Seja pelo lado financeiro ou pelo efeito na economia real - como a produção industrial e as vendas do varejo - o Brasil hoje está muito menos vulnerável a crises externas do que no passado, dizem analistas.

O economista Caio Prates, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, acredita que no pior cenário possível - uma recessão mais profunda nos Estados Unidos - a economia brasileira poderia crescer 4% este ano. Prates destaca que isso só ocorreria caso a crise nos mercados levasse a uma alta do dólar que ameaçasse a inflação, forçando o Banco Central a subir juros.

- Mas esse risco é baixo. Mesmo com todas as turbulências dos últimos dias, o dólar ainda fechou abaixo de R$1,80 hoje (ontem) - diz Prates.

Marcel Pereira, economista da RC Consultores, também destaca a melhora na solvência externa do país. Em 2001, quando houve a última grande crise nos mercados mundiais, a dívida externa brasileira era mais do que o triplo do volume anual de exportações do país. Hoje, esses valores são quase iguais. Pereira lembra que, assim como a blindagem externa, a situação fiscal do país melhorou. A dívida pública, que chegou a 55% do PIB em 2002, está em 43% do PIB.

- Além disso, avançamos na administração da dívida. Hoje, já não há papéis cambiais, e o prazo médio de endividamento aumentou - diz Pereira.

Outro trunfo do Brasil é o crescimento sustentado no mercado interno, via consumo das famílias e investimento das empresas. José Cezar Castanhar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que o cenário atual é diferente do de 2002 a 2005, quando a economia cresceu impulsionada pelas exportações. Ele não acredita que a crise possa afetar decisões de investimentos do setor produtivo:

- Desde que teve início a crise nos EUA, há seis meses, o Brasil cresceu de forma mais vigorosa do que o previsto e ainda descobriu dois grandes campos de petróleo. Os investidores se interessam por isso: o potencial interno do país.

Prates também vê no bom desempenho do mercado doméstico um amortecedor para a crise internacional. Ele lembra que, em 2007, as exportações tiveram contribuição de apenas 0,9 ponto percentual para o crescimento do PIB, que, segundo suas projeções, foi de 5,4%.