Título: Emergentes serão o fiel da balança nessa crise
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Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 21

AMEAÇA GLOBAL: Rússia está atrelada ao petróleo e China e Índia são dependentes da economia americana

Segundo analistas, economia mais fechada e mercado interno forte são vantagens do Brasil diante de outros Brics

O quarteto fantástico dos países emergentes - Brasil, Rússia, Índia e China, apelidados com a sigla Brics - podem se tornar o fiel da balança na atual crise. Muitos analistas depositam neles a esperança de que uma recessão nos Estados Unidos não vai arrastar a economia global. Outros, mais céticos, ainda vêem os EUA como principal motor do crescimento mundial. Mesmo discordando sobre qual é o verdadeiro peso dos Brics para o mundo, os economistas são unânimes em afirmar que esses gigantes em desenvolvimento não passarão imunes pelas turbulências americanas. E, nesse quesito - contágio da crise - o Brasil sai em vantagem.

Com uma economia fechada e crescimento baseado no mercado doméstico, o Brasil, entre os quatro, seria o menos abalado. Além disso, dizem os analistas, o Brasil tem industrialização mais avançada e instituições políticas mais consolidadas do que seus colegas nos Brics. Afinal, China e Rússia são países de transição recente para a economia de mercado. Na Índia, que adotou reformas liberalizantes a partir da década de 90, um quarto da população ainda está abaixo da linha de pobreza - ou seja, alijado do mercado.

O crescimento da Rússia nos últimos anos tem ocorrido graças, principalmente, à disparada do petróleo. E essa commodity será a primeira a perder valor caso os EUA entrem em recessão - ontem mesmo, a cotação caiu 0,79%. A Índia tem seu setor mais dinâmico, que é a prestação de serviços à distância, intimamente ligado ao desempenho dos EUA, seu maior cliente.

Na China, os economistas torcem para que o mercado doméstico em expansão compense uma queda nas exportações. Mas as vendas externas ainda representam 42% do PIB e serão afetadas com um agravamento da crise nos EUA, principal destino das exportações. A China, aliás, estará no centro das atenções. Um esfriamento mais forte do país corroboraria a tese de que o mundo ainda depende muito dos EUA - ou seja, que não houve o propagado "descolamento" dos demais países em relação à economia americana. Muitos analistas afirmam que, se a China tremer, as projeções para o resto do mundo vão mudar, para pior.