Título: Pacote de Bush ainda engatinha
Autor: Rodrigues, Lino; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 22
Projeto que permite corte de impostos só deve ser aprovado no fim de março.
WASHINGTON. A proposta de corte de impostos, feita pelo presidente George W. Bush ao Congresso na última sexta-feira, ainda está dando seus primeiros passos. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson Jr., começou a negociar o projeto com os parlamentares, mas o cálculo é de que um primeiro esboço chegue à mesa de Bush daqui a três semanas.
- Eu espero que possamos ter esse pacote devidamente aprovado antes que o inverno se transforme em primavera - disse Paulson, referindo-se portanto a um prazo cujo teto seria 21 de março próximo.
Embora ele seja o encarregado de traçar os planos do governo, o pacote contará também com as providências que o próprio Congresso achar adequadas. A proposta, feita por Bush na última sexta-feira, é de injetar imediatamente cerca de US$145 bilhões na economia através do corte de impostos para pessoas físicas e empresas.
Ontem, Paulson anunciou que as providências que vêm sendo geradas para estimular a economia americana, de forma imediata, constituirão "um pacote agressivo de crescimento". Mas no fim da tarde, quando Bush se reuniu com os líderes do Congresso para conversar sobre o assunto, ficou claro que Paulson anunciara, na verdade, uma intenção e não um fato.
O mercado não está tão otimista. Harry Clark, presidente da Clark Capital Management, de Filadélfia, juntou-se ao coro dos que exigem mais ação do Fed, o banco central americano:
- É preciso algo mais do que baixar juros: é preciso injetar mais liquidez na praça.
Diante da reação negativa e de queixas de alguns parlamentares, o próprio presidente reconsiderou:
- Ele acredita que esse (os R$145 bilhões) seja um bom volume. Mas não vamos fechar as portas - disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
Pouco depois o próprio Bush acrescentaria:
- Acredito que possamos encontrar um terreno comum para fazer alguma coisa que seja suficientemente grande, e suficientemente eficaz, para que uma economia que é inerentemente forte receba um impulso, e garanta que essa incerteza não se traduza em mais angústia para nossos trabalhadores e pequenos negociantes.
UBS prevê recessão para os EUA este ano
A deputada Nancy Pelosi, líder da maioria democrata na Câmara, que participara da reunião na Casa Branca, disse que a missão é de muita responsabilidade porque a perspectiva de recessão nos EUA contamina o resto do mundo.
- A urgência que sentimos para resolver o problema aqui em casa é agora ainda mais urgente, quando vemos o impacto de nosso mercado em outros - disse ela.
A equipe econômica do banco UBS emitiu uma circular alertando para que se apertem os cintos, pois prevê um crescimento negativo dos EUA nos dois primeiros trimestres deste ano. Um de seus analistas acrescentou:
- Dois meses de crescimento negativo é a definição de um conceito: o de recessão.