Título: Teremos recessão nos EUA. Resta saber por quanto tempo
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 23

O economista Thomas Trebat, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, diz que está na hora de o governo Lula agir com cautela e precisão, para evitar que os efeitos da crise americana sejam piores sobre a economia.

Marília Martins

O corte emergencial de juros pelo Federal Reserve vai surtir efeito?

THOMAS TREBAT: Sim. A primeira reação do mercado foi de pânico, mas isso não vai se manter porque o corte de juros promovido pelo Federal Reserve e o pacote de US$145 bilhões de estímulo à economia são medidas de impacto, que vão surtir efeito a curto prazo. O corte de juros foi significativo, o maior das últimas duas décadas. Essa não é a melhor medida para se combater uma recessão, mas é a que tem efeito mais imediato sobre o mercado.

O que mais é preciso fazer para evitar recessão na economia americana?

TREBAT: Os bancos centrais das maiores economias européias e asiáticas deverão seguir o exemplo do Federal Reserve e também anunciar cortes em suas taxas de juros. Isto daria um reforço para os mercados em nível global. Todos estão preocupados e a ninguém interessa que a economia americana entre em recessão.

E quanto ao governo americano? Será preciso alguma outra medida além do pacote já anunciado por Bush?

TREBAT: Sim. Aguardam-se novas medidas. Sobretudo na área fiscal. O governo americano deverá promover um ajuste fiscal importante em 2008. O pacote de Bush de estímulo à economia não basta porque a economia americana já está desacelerada. Os indicadores do mercado imobiliário e o índice de desemprego do último trimestre de 2007 foram muito preocupantes. O crescimento no primeiro trimestre de 2008 deve ficar entre zero e 1% pelas previsões mais otimistas. Teremos um primeiro semestre de apreensão nos EUA, mas o governo já sinalizou que vai reagir para evitar uma recessão profunda.

O senhor acha que ainda é possível evitar uma recessão?

TREBAT: Não. Acho que teremos recessão, mas resta saber de quanto será a queda do crescimento e quanto tempo vai durar. O governo não vai aceitar uma recessão prolongada e profunda. Por isto, o Fed agiu imediatamente, fazendo o corte de emergência dos juros.

Muita gente diz que o presidente Ben Bernanke está sendo tão "bonzinho" que a crise deve ser muito maior do que se imagina...

TREBAT: Pode até ser que a crise seja maior. Mas o fato é que o mercado puniu muito fortemente as instituições financeiras. Merrill Lynch, Wachovia Bank, Bank of America, Citibank, todos tiveram fortes prejuízos no mercado imobiliário americano. Os balanços das instituições financeiras vão mostrar que elas sofreram muito. Vão sentir muita dor, mas vão sobreviver a esta crise.

O que o Brasil pode fazer para evitar ser atingido pela crise?

TREBAT: Não há muito o que se possa fazer. O risco é a retirada de capitais estrangeiros do mercado brasileiro, o que deve acontecer, reduzindo o ritmo da bolsa de valores e dos investimentos. Os preços das commodities também estão sofrendo fortes quedas, o que vai afetar o balanço de exportações da economia brasileira. Mas isto não deve se prolongar. O governo brasileiro precisa ter cautela com a política de juros e precisa promover um ajuste fiscal para compensar a perda da CPMF. Será preciso cortar na carne. Não há outro modo de enfrentar a crise. Está na hora de agir com cautela.