Título: Empresários temem redução das exportações
Autor: Oliveira, Eliane; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 23

AMEAÇA GLOBAL: Embora o país seja menos dependente dos Estados Unidos no comércio exterior, situação preocupa.

Desaquecimento da economia americana poderá gerar impacto negativo em países que compram do Brasil.

BRASÍLIA. Embora cada vez menos dependentes dos Estados Unidos, por causa da diversificação de compradores no mercado internacional, os empresários brasileiros acompanham atentamente a situação atual. A preocupação é que a desaceleração da economia americana contamine países que dependam de exportações para os EUA e que, conseqüentemente, eles tenham menos recursos para comprar do Brasil. Isso ocorre tanto com produtos de maior valor agregado quanto com commodities agrícolas e não agrícolas. O impacto de uma crise no México, por exemplo, poderia afetar exportações de automóveis, autopeças e outros manufaturados brasileiros.

Para o gerente-executivo da Unidade de Comércio Exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Frederico Álvares, se desaquecimento da economia americana se confirmar, as vendas brasileiras serão afetadas. Além de reduzir suas importações, os EUA também desaqueceriam a economia mundial. Álvares diz que o comércio exterior brasileiro corre o risco de ser mais afetado pela China, que, diante do desaquecimento americano, poderia baixar preços para ganhar competitividade:

- As empresas que não redirecionaram vendas para o mercado interno têm de continuar buscando se internacionalizar e reduzir custos, para ficarem mais competitivas.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, alerta para a possibilidade de a competição no comércio mundial de manufaturados aumentar, numa tentativa de recuperar as vendas perdidas no mercado americano. Segundo ele, isso deixaria o Brasil em desvantagem, tendo em vista, principalmente, o câmbio valorizado. Quanto às commodities, haveria uma redução das importações da China, especialmente de aço e cobre, uma vez que os chineses produziriam menos bens de consumo e, com isso, precisariam de menos insumos.

- Diretamente, não acho que meu setor será afetado. Vai depender do tempo e da intensidade, de quanto isso atingiria outros mercados do mundo. Temos que estar atentos - disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider.

O governo avalia que a desaceleração do consumo do maior comprador individual de produtos brasileiros já começou. Na pauta de exportações para os EUA, produtos como motores para veículos, calçados e autopeças registram quedas em 2007 frente ao ano anterior. No entanto, o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, ponderou que, com exceção de aviões e óleos combustíveis, nenhum item tem suas exportações para os EUA equivalentes a mais de 1% da pauta.

Barral observou que alguns mercados não devem ser atingidos, como o comércio intra-firmas (empresas americanas no Brasil que importam insumos dos EUA e vice-versa), e enfatizou que as exportações brasileiras para o país continuam crescendo. De janeiro a novembro de 2007, houve alta de 1,3% ante 2006. As importações daquele país subiram cerca de US$5 bilhões, para US$18 bilhões.

O chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Luiz Pereira, concorda com a avaliação. Apesar da desaceleração da economia americana, sua intensificação não provocaria uma quebradeira no Brasil.

- Não há setores exclusivamente dependentes dos EUA - reforçou.

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, do início da década para cá, caiu a participação dos EUA na pauta brasileira, de 23,93% para 15,67%. O vice-presidente da Abicalçados, Ricardo Wirth, afirmou que o mercado americano já foi o destino de nada menos que 80% das exportações de sapatos brasileiros. Hoje, os EUA recebem 40% das vendas externas do Brasil.

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Aguinaldo Diniz, diz que, embora parte das exportações do setor têxtil vá para o mercado americano, as chances de as empresas serem afetadas são pequenas:

- A economia americana é tão grande, que eventual desaceleração não será tão forte.