Título: Plano federal é vacina contra a crise, diz Dilma
Autor: Oliveira, Eliane; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 23/01/2008, Economia, p. 27

Para ministra, PAC acelera demanda interna e mantém crescimento. Mantega: crise se estenderá, mas Brasil está preparado.

BRASÍLIA.O governo foi informado sobre a redução de 0,75 ponto percentual da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no momento em que anunciava o balanço do primeiro ano do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A notícia, dada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi recebida com alívio e inspirou a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo ela, o PAC é uma vacina contra a crise internacional.

- O PAC é uma vacina contra a crise externa. O PAC é uma vacina, porque acelera a demanda interna, foca na demanda interna e cria uma grande permanência em relação à demanda. É um conjunto de obras cujo fator determinante é interno, não é externo - disse a ministra.

Mantega diz que medida do BC americano atenua a crise

Enfatizando não ser sua intenção menosprezar os efeitos da crise internacional para qualquer país, Dilma Rousseff esclareceu que hoje o Brasil tem uma dinâmica interna, pela expansão do crédito e dos investimentos e pelo próprio PAC. Isso significa, acrescentou, que o país mantém uma trajetória de crescimento sustentado.

- Para nós era melhor que continuasse a situação anterior. Mas, não continuando, temos outras armas. Temos que maximizar os efeitos domésticos - afirmou, mais tarde, em entrevista ao GLOBO.

- (O PAC) Não é vacina porque imuniza, é vacina no sentido de que reforça o organismo. Pode sofrer efeitos, mas não é mais um organismo fragilizado diante da doença. É mais reforçadinho - complementou a ministra.

Já o ministro da Fazenda disse que a medida vai atenuar a crise, mas não resolvê-la imediatamente. Mantega voltou a afirmar que o Brasil está preparado para uma eventual recessão nos EUA e desvinculou a redução dos juros americanos com a política monetária brasileira.

- A redução da taxa do Fed trará um alívio para os mercados, que estão nervosos, mas não vai interromper o problema da crise, que deve se estender nos próximos meses. A bolha que está se dissipando trará prejuízo para alguns setores e possível desaceleração na atividade econômica - disse.

Ele descartou qualquer possibilidade de a redução de 0,75 ponto percentual promovida pelo Fed exercer alguma influência sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou ontem e termina hoje.

Segundo o ministro, ao contrário dos EUA, cujo banco central baixou os juros para diminuir os custos do dinheiro e melhorar a oferta de crédito, no Brasil, a política monetária está diretamente vinculada à inflação.

- As realidades são diferentes. O Brasil não sofre dos mesmos problemas (dos EUA) e o comportamento dos juros, aqui, mantém-se exclusivamente em função da meta de inflação. O que nos interessa é a inflação e que ela está sob controle - ressaltou o ministro da Fazenda.

Mantega reforçou as projeções do governo de crescimento de 5% da economia para este ano, com inflação de 4,5%, ou seja, dentro da meta.

Para Paulo Bernardo, crise não prejudica o PAC

Horas depois, após um encontro com o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), Mantega declarou que a turbulência no mercado financeiro internacional não tira seu sono.

- A turbulência não tira o sono do ministro da Fazenda, porque ela é fora do Brasil. Mas é claro que durmo com um olho aberto e outro fechado - disse Mantega, acrescentando que uma eventual perda na balança comercial, por exemplo, seria compensada com o mercado interno em expansão.

Já o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou não acreditar em recessão nos EUA e assegurou que a crise externa não prejudicará os investimentos do PAC. A decisão do banco central americano, disse o ministro, mostra que "o Fed não está para brincadeira".

- É uma dose fortíssima - classificou o ministro.