Título: Lula cobra mais empenho político de ministros
Autor: Damé, Luiza; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/01/2008, O País, p. 5

Presidente quer evitar novas derrotas como a da CPMF; Planalto criará banco de dados com pedidos dos aliados.

BRASÍLIA. Para evitar uma nova derrota como a do fim da CPMF, que chamou de pedagógica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer a força da máquina ministerial e o poder dos seus ministros políticos trabalhando para acabar com resistências no Congresso e facilitar a vida do governo nas votações. Na primeira reunião ministerial do ano, ontem, ele cobrou mais empenho, dando sinais de ter esgotado a paciência com a falta de sintonia política do governo. Ficou decidido que o Planalto vai criar um banco de dados com as demandas dos aliados, incluindo liberação de emendas e nomeações para cargos federais, e como elas estão ou não sendo atendidas pelo governo.

Lula critica falta de diálogo entre os ministros

Ao cobrar maior entrosamento entre os ministros, alegando que a política é o centro da atividade de governo, Lula reclamou que eles passam "meses e meses sem conversar entre si" e comparou a reunião à Santa Ceia:

- Muitas vezes nós ficamos cinco anos juntos, sentamos a esta mesa aqui, parece a Santa Ceia, todo mundo amigo, mas depois passamos um ano sem conversar entre nós. Penso que entre vocês existe pouca conversa política, que (por) meses e meses vocês não conversam entre si, não trocam idéia. Certamente as pessoas conhecem menos do que deveriam conhecer das coisas que o governo faz, porque o sistema de informação e comunicação entre nós talvez não seja o mais perfeito, ainda. Mas a política é o centro da atividade de um governo, tudo que nós fazemos começa pela política e termina tendo um resultado político.

No debate com os ministros, ele falou especificamente sobre a derrota sofrida no Senado e avisou que vai arbitrar mais:

- A derrota da CPMF foi pedagógica e tem de ensinar daqui para frente. Pagamos o alto preço da falta de sintonia política. Foi uma lição que não podemos repetir. Daqui para frente, quando tiver uma pendência que não se resolva entre dois ou três ministérios, eu vou arbitrar e dar a decisão. O ministro que não gostar, peça pra sair.

O que Lula quer lhe parece simples: que os 19 ministros - do total de 37 - que são políticos ou já passaram pela política garantam o apoio de seus partidos ao governo. Além da aprovação do Orçamento, com o corte de até R$20 bilhões para compensar o fim da CPMF, o governo precisa aprovar duas medidas provisórias: a que aumenta a alíquota da Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a que cria a TV Pública.

- Estamos no governo e precisamos saber combinar essa nossa atuação na relação com todos os outros ministros, porque temos três anos de governo pela frente.

Assunto prioritário da reunião foi a política

Lula abriu a reunião dizendo que o assunto prioritário seria a política - não falaria do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos programas sociais, e disse que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, faria uma explanação curta sobre a crise internacional. Essa fala seria de Guido Mantega (Fazenda), mas, segundo Lula, ele teve dor de dente e estava, naquele momento, no dentista. Mantega chegou mais tarde.

- Embora a CPMF seja uma matéria vencida, ela foi pedagógica. Foi pedido que nos capitalizássemos mais, organizássemos melhor o potencial político de cada ministro. Que se use o talento e o potencial que todos têm - relatou, depois, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Para Múcio, que espera contar com os colegas a partir de agora, um dos erros políticos de 2007 foi a falta de diálogo entre ministros, além da demora no preenchimento de cargos nos escalões inferiores.

- O que está evidentemente faltando é uma troca de informações. Nós cometemos (um erro), demoramos. Com a reeleição, o governo continuou, mas o Congresso mudou. Os partidos que integram a coalizão estão desejosos de participar do programa de governo - disse o ministro.