Título: Alckmin reafirma ao DEM intenção de concorrer
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 24/01/2008, O País, p. 9

Tucano diz a Bornhausen e Kassab que sua candidatura a prefeito atende às expectativas do PSDB, não a uma vontade pessoal.

SÃO PAULO. Apesar da pressão do DEM e de parte do comando de seu partido para que desista da pré-candidatura a prefeito de São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin reiterou ontem, em duas ocasiões, que, "para atender à expectativa da base tucana", o PSDB deve lançar nome próprio na corrida à sucessão de Gilberto Kassab. O recado foi dado pela manhã em conversa reservada com Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM, e num almoço com o próprio Kassab, a quem o tucano reforçou a idéia de que os dois partidos saem fortalecidos do processo eleitoral, independentemente de haver ou não aliança.

- Esse almoço foi importantíssimo para mostrar que os dois partidos sabem de suas forças políticas e estão dispostos a dialogar - disse o deputado Edson Aparecido, ligado a Alckmin.

A cúpula do PSDB, porém, trata o assunto com cautela:

- Estou atuando para que o PSDB não perca sua rota - disse o presidente do partido, Sérgio Guerra, que estará hoje em São Paulo.

Nadando contra a corrente junto à cúpula partidária - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador José Serra defendem a coligação DEM/PSDB, com Kassab como cabeça de chapa -, Alckmin decidiu primeiro reagir à ofensiva do DEM. No início do dia, procurou convencer Bornhausen de que sua candidatura não é um pleito pessoal, mas para atender às expectativas em torno da visibilidade de sua campanha.

"Há tempo para uma solução comum", diz Bornhausen

Em nota, Bornhausen contemporizou: "Ambos concordamos que a eleição de 2008 terá influência sobre a eleição de 2010 (para o governo do estado e para a Presidência). Concordamos também sobre a necessidade de manutenção da coligação PSDB-DEM. O caminho para esta união implica um diálogo sério e com espírito público. Há tempo necessário para uma solução comum".

Ainda assim, para descartar a tese de que estaria minando a histórica aliança entre os partidos, Alckmin disse ao líder democrata que foi ele mesmo quem convidou Claudio Lembo para ser seu vice na eleição para o governo de São Paulo, em 2002. Lembrou ainda que fez campanha para Kassab ser o vice de Serra, em 2004, e que não fez objeção ao nome do senador José Jorge (DEM) para a sua chapa presidencial, há dois anos, quando perdeu para Lula.

- Todas essas alianças mostram que ele (Alckmin) é o menos interessado em quebrar a coligação, mas todo o partido tem expectativa em torno da candidatura dele - disse o deputado Sílvio Torres (PSDB).

No almoço fechado com Kassab, organizado na casa do presidente do diretório municipal tucano, José Henrique Reis Lobo, um dos secretários de Serra no governo paulista, Alckmin reiterou a legitimidade do DEM e do PSDB em lançar nomes, mas reiterou que qualquer decisão deve ser tomada em consonância com o partido.

- Vou acatar a decisão que meu partido tomar, mas não podemos dar as costas para o anseio da base - disse o tucano, que antes do encontro com Kassab recebeu apoio de 23 dos 27 candidatos do PSDB a prefeito de cidades da região metropolitana de São Paulo.

Ao mesmo tempo em que parte do PSDB teme que a candidatura de Alckmin provoque a ruptura com o DEM, o que prejudicaria a campanha do candidato tucano à Presidência, em 2010, uma ala do partido tem outro raciocínio:

- Temos de pensar que se o PT ganhar em São Paulo com a Marta Suplicy, por exemplo, automaticamente ela estará credenciada para disputar a eleição presidencial. Antes de pensar em 2010, precisamos olhar atentamente para a eleição deste ano - disse um tucano.