Título: Delúbio depõe e deixa procuradores sem respostas
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 24/01/2008, O País, p. 9

Petista diz que nunca tratou de dinheiro com o presidente.

SÃO PAULO. Interrogado por duas horas pela juíza Silvia Maria Rocha, da 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo, no processo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares inocentou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu no suposto esquema de desvio de dinheiro público para o pagamento de propinas a parlamentares aliados do governo. Orientado por advogados, Delúbio se recusou a responder a todas as perguntas dos procuradores federais José Alfredo de Paula Souza e Rodrigo De Grandis. Advogados de outros réus acompanharam o interrogatório.

- A juíza perguntou se o presidente (Lula) sabia e ele (Delúbio) disse que não, que nunca tratou disso com o presidente. Delúbio falou que tratava direto com Marcos Valério (publicitário mineiro apontado como pivô do escândalo) - disse um advogado que presenciou o interrogatório.

O ex-tesoureiro petista respondeu longamente a todas as perguntas feitas pela juíza (a mesma que manteve o deputado Paulo Maluf na cadeia por 41 dias). Quando um dos procuradores fez o primeiro questionamento, Delúbio se recusou a responder, alegando ter sido orientado pelo advogado Gelso Villardi. Os procuradores não fizeram mais perguntas, mas os advogados questionaram Delúbio sobre encontros, reuniões e pessoas com quem teve contato. Ele se calou em todas.

Ex-tesoureiro reiterou versão sobre empréstimos

De acordo com pessoas que acompanharam o interrogatório, Delúbio não fez nenhuma revelação nova. O ex-tesoureiro reiterou a versão de que os empréstimos de R$2,4 milhões e R$3,6 milhões feitos junto ao Banco Rural e BMG foram usados para pagar despesas da festa de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, gastos com viagens de petistas envolvidos na transição entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, além de campanhas eleitorais de petistas e aliados para as eleições municipais de 2004. Os empréstimos foram contraídos pelo PT em 2003 com aval de Marcos Valério.

- Os empréstimos eram para cobrir débitos passados e planejamentos futuros. Nenhuma novidade -- disse o advogado Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco, que defende o ex-presidente do PT José Genoino.

O interrogatório faz parte do processo do mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de Delúbio, o empresário Breno Fischberg, sócio da corretora Bonus-Bonval, foi ouvido ontem. Hoje, devem ser interrogados o ex-ministro José Dirceu, o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira e outro sócio da Bonus-Bonval, Enivaldo Quadrado.