Título: Cabral pede, e Jobim descarta privatizar Galeão
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Fonte: O Globo, 24/01/2008, O País, p. 10

Governador chamou aeroporto de "espelunca"; ministro diz que apenas abertura de capital da Infraero está em discussão

RIO e BRASÍLIA. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), confirmou ontem que sugeriu ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, a imediata privatização do Aeroporto Tom Jobim (Galeão). Conforme noticiou ontem a coluna Ancelmo Gois no GLOBO, o governador propôs a Jobim que seja criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para administrar os terminais do Galeão, classificados por Cabral como "uma vergonha e uma espelunca".

- Ninguém agüenta mais aquele aeroporto que parece um espelunca. O terminal 1 do Galeão é uma vergonha. A gestão de carga do aeroporto é uma vergonha. Não é possível que isso continue. O ministro Jobim se sensibilizou com minhas ponderações - disse Cabral ontem.

Jobim, porém, descartou ontem a possibilidade de privatizar o Galeão. Por intermédio de sua assessoria, o ministro da Defesa informou que a discussão que ocorre no governo, no momento, envolve a possibilidade de abertura de capital da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) para empresas privadas. A Infraero é a responsável pela administração do Galeão e dos demais aeroportos brasileiros. Assessores confirmaram que o ministro recebeu anteontem telefonema de Sérgio Cabral, pedindo a privatização do aeroporto do Rio.

"Se não se ousar nesta área não vamos sair do lugar"

Para o governador, a solução para os problemas do aeroporto Galeão/Tom Jobim seria tirá-lo das mãos da gestão pública:

- Se não se ousar nesta área não vamos sair do lugar. No caso do Galeão, cria-se uma empresa, uma sociedade de propósitos específicos, uma SPE. A Infraero pode ficar como majoritária, mas com a condição de que a empresa privada ou o consórcio privado administre o Galeão. Hoje, os principais aeroportos do mundo, os mais bem-sucedidos são tratados como empresas. O Rio de Janeiro merece ter um aeroporto mais qualificado - disse Cabral, que, pela manhã, participou da inauguração da ampliação da fábrica da Rio de Janeiro Refrescos, no bairro de Jacarepaguá.

O Ministério da Defesa lembrou que a nova presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Solange Vieira, é a favor da abertura de capital da Infraero. Durante sua sabatina na Comissão de Serviços e Infra-estrutura do Senado, em dezembro, Solange Vieira foi questionada sobre a concessão de aeroportos e a abertura de capital da Infraero. Ela respondeu que há estudos sobre esse assunto dentro do governo.

Quando assumiu a presidência da Infraero, em agosto de 2007, Sérgio Gaudenzi afirmou que a empresa pode ter participação privada, mas disse que apenas dez, dos 67 aeroportos do país, são rentáveis. Ele defendeu o fortalecimento da aviação regional, mas colocou em dúvida se os empresários se interessariam em investir em algo que não dá lucro.

Gaudenzi afirmou que teria, naquela época, encomendado um estudo sobre a venda de ações da Infraero em bolsa de valores, mas no limite de 49%, o que garantiria à estatal o controle da empresa. Técnicos do Ministério da Fazenda já teriam até apresentado a minuta de um estudo à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.