Título: Confirmada a nona morte por febre amarela
Autor: Brígido, Carolina; Souza, Isonilda
Fonte: O Globo, 24/01/2008, O País, p. 11

Vigilante foi contaminado em Goiânia, mas secretaria de Saúde afirma que caso é de vírus silvestre e não urbano

BRASÍLIA e GOIÂNIA. A Secretaria de Saúde de Goiás confirmou ontem o primeiro caso de morte causada por febre amarela contraída numa grande cidade - Goiânia, a capital do estado. O vigilante Raimundo Pereira Ramos, de 64 anos, guarda noturno no Campus 2 da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, é o nono a morrer com a doença no país.

O Ministério da Saúde confirmou ontem que 18 pessoas contraíram febre amarela no país neste ano. São seis casos a mais do que os divulgados segunda-feira. Do total, nove foram curados.

O vigilante morreu no Hospital de Doenças Tropicais, em 30 de dezembro. Os primeiros sintomas apareceram dia 20. Ele foi vacinado no dia 27, e morreu três dias depois. Embora o vigia tenha contraído o vírus da febre amarela na zona urbana, o secretário de Saúde, Cairo Alberto de Freitas, sustenta que o caso é de febre amarela silvestre:

- Não é porque ele estava na zona urbana que caracteriza febre amarela urbana. Ele trabalhava em zona de mata.

Segundo Freitas, o local fica próximo a uma mata ciliar onde foram registradas mortes de macacos:

- Lá foram encontrados focos do mosquito Haemagogus, vetor da febre amarela silvestre, e menos de 1% de infestação do Aedes aegypti, vetor da urbana.

Sintomas foram confundidos com dengue hemorrágica

Freitas disse que, para considerar risco de contaminação de febre amarela por Aedes, deveria haver infestação do mosquito acima de 40%. O secretário disse que a morte do vigilante não havia sido registrada como suspeita de febre amarela pelo Ministério da Saúde porque, além de ele ter sido imunizado, os sintomas foram confundidos com dengue hemorrágica. Outro fator que inicialmente descartou a febre amarela foi o resultado negativo da sorologia feita pelo Laboratório Público Central, em Goiânia. Mas a contraprova feita nas vísceras do vigilante, pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), confirmou a febre amarela.

A secretaria informou ainda que o Campus 2 da UFG estava em alerta contra a febre amarela desde o fim do ano passado. No local, foram registrados vários casos de morte de macacos.

Segundo boletim do ministério, aumentou nos últimos dias o número de pacientes com sintomas da doença. Segunda-feira eram 34. Ontem, 40. Desse total, 15 notificações foram descartadas, e sete permanecem sob investigação. Nenhum representante do ministério quis dar explicações sobre o agravamento da situação.

Segunda-feira, morreu mais um paciente com suspeita de febre amarela em Brasília. O caseiro Francisco da Guia dos Santos, de 32 anos, não tinha tomado a vacina e esteve, entre 12 e 15 de janeiro, no município goiano de Padre Bernardo, considerado parte de área endêmica. O resultado dos exames que apontarão a causa do óbito deve ficar pronto em cinco dias.

Neste ano, foram confirmadas três mortes por febre amarela em hospitais do DF. Todas as vítimas estiveram no interior de Goiás pouco antes de apresentarem os sintomas. O primeiro caso foi o do técnico em informática Graco Carvalho Abubakir, de 38 anos. Ele morreu em 10 de janeiro, quatro dias após ser internado. Ele passou o réveillon em Pirenópolis (GO) e não estava imunizado.

* Especial para O GLOBO