Título: OIT: crise pode eliminar 5 milhões de empregos no mundo este ano
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 24/01/2008, Economia, p. 22

AMEAÇA GLOBAL: Quatro em cada dez trabalhadores não têm trabalho decente.

Crescimento menor da economia global elevaria taxa de desemprego.

BRASÍLIA. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), braço das Nações Unidas, estima que o agravamento das turbulências financeiras internacionais poderá eliminar cinco milhões de vagas no mundo em 2008. A projeção consta do relatório "Tendências Mundiais do Emprego", divulgado ontem em Genebra, e parte do pressuposto de que a crise desencadeada pelo mercado imobiliário americano levará a uma desaceleração da economia global, com impacto mais forte nos países emergentes.

A expectativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento da economia mundial este ano é de 4,8% - o suficiente para gerar 40 milhões de novos empregos. Segundo a OIT, se a previsão não se confirmar, como tudo leva a crer, a taxa de desemprego mundial subirá para 6,1% este ano, contra 6% em 2007.

A coordenadora da área de Gênero, Raça e Políticas de Emprego da OIT no Brasil, Solange Sanches, destaca que os sistemas financeiros são interligados. Por isso, na avaliação do organismo, não há garantia de que uma desaceleração das economias mais industrializadas possa ser compensada integralmente pelo crescimento do resto do mundo, especialmente da Ásia.

487 milhões não ganham o bastante para deixar pobreza

Segundo Solange, a deterioração do cenário econômico mundial poderá interromper uma tendência positiva que vinha ocorrendo em vários países. Devido às disparidades regionais e à variedade de situação das economias, a OIT não faz recomendações específicas aos governos, mas Solange salientou a necessidade de formulação de políticas públicas.

- As políticas macroeconômicas devem ter o emprego como uma de suas prioridades. Além disso, é preciso definir que tipo de emprego se quer gerar. Essa é a idéia, por exemplo, do trabalho decente defendida pela OIT - disse.

Ela destacou, no entanto, que o Brasil tem hoje melhores condições de enfrentar a crise, pois sua economia tem fundamentos sólidos, um mercado interno aquecido e reservas internacionais em níveis elevados.

O documento da OIT ressalta ainda que, apesar do crescimento médio da economia mundial de 5,2% em 2007, o que contribuiu para a geração de 45 milhões de empregos, o número não foi suficiente para reduzir a taxa de desemprego. Ao contrário, o universo de desempregados subiu de 187 milhões em 2006 para 189,9 milhões no ano passado. Segundo o organismo, em 2007, 61,7% da população mundial em idade de trabalhar estavam ocupados, o que representa um universo de três bilhões de pessoas.

O relatório destaca também a existência de enorme déficit de trabalho decente no mundo, sobretudo nos países mais pobres. Quatro de cada dez pessoas têm empregos vulneráveis, exercendo ocupações informais e familiares, trabalhando por conta própria e sem desfrutar de sistema de proteção. A OIT afirma que 487 milhões de trabalhadores (16,4%) ainda não ganham o suficiente para deixar a linha da pobreza, que corresponde a US$1 dólar diário por pessoa.

O documento afirma que Oriente Médio e Norte da África registraram em 2007 as maiores taxas de desemprego, seguidos por América Latina e Caribe. Os países da Ásia Meridional (Índia, Nepal, Bangladesh, dentre outros) lideraram o aumento do emprego no ano passado, sendo responsável por 28% dos 45 milhões de postos abertos. Apesar disso, a região tem a maior quantidade de trabalhadores na informalidade.

O crescimento sustentável da Ásia Oriental (China, Japão e Coréias do Sul e do Norte) é apontado como motivo principal da redução do percentual de famílias abaixo da linha da pobreza, que passou de 59,1% para 35,6% em dez anos. Na América Latina, aumentou o percentual dos trabalhadores em condição vulnerável.