Título: Dirceu diz desconhecer mensalão, alegando que estava afastado do PT
Autor: Galhardo, Ricardo; Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 25/01/2008, O País, p. 8

À Justiça, ex-ministro afirmou que não sabia como o partido era gerido.

SÃO PAULO. Interrogado durante uma hora e meia na Justiça Federal, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos 40 réus no processo do mensalão, disse desconhecer a existência do suposto esquema de desvio de dinheiro público para pagamento de apoio parlamentar ao governo. A estratégia usada pelo ex-ministro foi dizer que desconhecia as atividades do PT, já que se afastou da direção do partido logo depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em novembro de 2002.

- O ministro disse claramente que, a partir do momento em que deixou a direção do PT e assumiu a Casa Civil, sua relação com o PT se distanciou. Quer por causa da agenda insana na Casa Civil, quer pelos compromissos que ele tinha. Ele deixou claro que não participava da administração do PT e, portanto, não tinha conhecimento de como o partido era gerido - disse o advogado de Dirceu, José Luis Oliveira Lima.

A estratégia foi interpretada por advogados de outros réus como tentativa de empurrar a culpa para a antiga direção do PT, cujo presidente era José Genoino. Oliveira Lima negou:

- De maneira alguma. Ele era o chefe da Casa Civil e não tinha tempo para participar da administração do PT.

O advogado não deixou claro se Dirceu afirmou, perante a Justiça, desconhecer o esquema ou se negou categoricamente a existência do mensalão.

- Ele negou qualquer participação nos fatos imputados. Negou ter conhecimento e negou o esquema. Daquilo que ele tivesse conhecimento, é óbvio - disse Oliveira Lima.

Segundo o advogado, Dirceu confirmou ter se encontrado com dirigentes do BMG e Banco Rural, mas negou que o objetivo dos encontros fosse tratar dos empréstimos de R$2,4 milhões e R$3,6 milhões feitos ao PT, tendo como avalista o publicitário Marcos Valério de Souza.

A juíza da 2ª Vara Criminal Federal, Sílvia Maria Rocha, fez perguntas sobre a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema e chegou a sugerir que os dois eram muito próximos. Dirceu, que responde por formação de quadrilha e corrupção ativa, negou que Lula tivesse conhecimento de qualquer irregularidade.

- Foi questionado se o presidente tinha conhecimento e falou que não, assim como ele não tinha - disse o advogado.

Dirceu chegou de táxi ao prédio da Justiça Federal, às 13h30m, uma hora antes do horário marcado para o interrogatório. De terno azul-escuro com risca de giz, recusou-se a falar com a imprensa. Esboçou um sorriso quando perguntado sobre o implante de cabelo feito semana passada em Recife. Apesar do tumulto, era possível perceber, acima da testa, um tufo de fios mais curtos que o restante da cabeleira grisalha de Dirceu, que ostentava uma silhueta visivelmente mais enxuta que nos tempos de governo.