Título: É o seguinte, o voto vai custar 50 paus
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 25/01/2008, Rio, p. 11

CORRUPÇÃO: Analistas da Coordenadoria de Segurança e Inteligência do MP ouviram 11 mil horas de gravações

Interceptações telefônicas mostram secretário de Santo Antônio de Pádua negociando compra de apoio para eleições

Durante as investigações para deflagrar a operação Uniforme Fantasma, analistas da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do Ministério Público ouviram mais de 11 mil horas em dez meses. As interceptações telefônicas, autorizadas pelo juiz Daniel da Silva Fonseca, da Vara Especial Criminal de Magé, revelam o modus operandi da quadrilha, que consistia no pagamento de valores indevidos aos funcionários públicos envolvidos nas licitações fraudulentas. As gravações mostram até esquemas para a compra de votos em eleições municipais.

Num trecho que foi gravado em 31 de agosto do ano passado, o secretário de Administração de Santo Antônio de Pádua, Tarcísio Aquino Padilha, negocia com um homem chamado Lutero, que demonstra interesse em comprar votos nas próximas eleições.

Tarcísio diz que a prefeita de Magé, Núbia Cozzolino, também pagou por votos para ser eleita. O secretário usa um suposto assessor, tratado como Maurício, para convencer Lutero da vantagem da compra de votos.

Tarcísio pergunta a Lutero quantos votos Pedro Paulo (pré-candidato) teve na última eleição.

Lutero: "Trezentos e pouco, 300 e uns pouquinhos".

Tarcísio: "Tudo comprado, né?"

Lutero: "É tudo comprado"

Tarcísio: "Tudo comprado, o nosso também vai ser assim... e você não precisa nem sair de casa, 300 eu te garanto, e o resto você faz a complementação entendeu".

Lutero: "Nós vamos coligar com outro partido".

Tarcísio: "Espera aí que o Maurício vai te explicar".

Maurício: "Você tem que entrar num partido que faça no mínimo dois candidatos, que é para você brigar folgado".

Lutero: "Pois é, a minha intenção é essa, Maurício".

Maurício: "Você tem que ver o partido... O partido que você foi eleito é qual?"

Lutero: "É o PFL, ué".

Maurício: "É nesse".

Lutero: "Hoje é o DEM".

Maurício: "Então foi você e quem que foi..."

Lutero: "Eu e o Pedro Paulo".

Tarcísio: "É o seguinte, o voto vai custar 50 paus, eu vou ter que gastar com você 150 mil".

Lutero: "Tá doido".

Tarcísio: "Então é verdade, você vai ver... Da Núbia me pagou depois da eleição (...) o seu é um compromisso que eu tenho com você, agora você não pode fechar.... me dá essa lista antes".

Lutero: "A lista de quê?"

Tarcísio: "Do pessoal que vai ser candidato".

Em outro trecho das gravações, há um acordo para fraudar notas fiscais, de aluguel de um tomógrafo para a prefeitura, entre o empresário e médico André Teixeira e Adilson Corrêa Tavares, o Tico, assessor de Núbia Cozzolino. Na conversa que foi interceptada pela polícia, o empresário sugere fazer uma nota no valor de R$100 mil, referentes a exames realizados apenas parcialmente. No final, ele diz que a diferença, que seria de R$30 mil, entre o valor cobrado e o realmente devido poderia ser dividida pelos dois.