Título: De olho nas urnas?
Autor:
Fonte: O Globo, 26/01/2008, Economia, p. 27

AMEAÇA GLOBAL

Analistas acham difícil evitar recessão nos EUA e vêem motivação eleitoral no plano de Bush.

NOVA YORK, WASHINGTON, LONDRES e RIO

O presidente americano, George W. Bush, fez um apelo ontem ao Congresso para aprovar rapidamente o pacote de estímulo de US$150 bilhões, afirmando que só uma ação rápida conseguirá dar partida na economia. Mas, nos mercados, esfriou o entusiasmo com as medidas e alguns analistas falam que, apesar de dar um fôlego momentâneo, o pacote chegou tarde para evitar uma recessão nos Estados Unidos. Alguns analistas também viram motivações eleitorais no rápido acordo entre governo e oposição para mandar o pacote ao Congresso, pois os contribuintes receberão os cheques a poucos meses das eleições, em novembro. Enquanto as bolsas asiáticas fecharam em alta, como reação ao anúncio, na véspera, do acordo entre a Casa Branca e a Câmara, os mercados europeus e americanos recuaram. No Brasil, não houve negociação devido ao feriado em São Paulo.

- Eu acredito que seria um erro retardar ou desvirtuar esse projeto - disse Bush, referindo-se à possibilidade de os dois partidos, Republicano e Democrata, adicionarem medidas ao projeto, que passa na Câmara semana que vem e depois vai para o Senado.

Os democratas querem medidas mais rápidas: a extensão do seguro-desemprego e a distribuição de cupons de alimentação.

- As duas poderiam injetar poder de compra nos próximos meses - disse Robert Greenstein, presidente do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas.

Para analistas, o pacote pode ajudar, ao entregar até US$1.200 a cada família, por meio da restituição do Imposto de Renda, funcionando como um balão de oxigênio para a economia. Só que o destino dos recursos é incerto.

- Nem todo o dinheiro será gasto. A experiência prova que quase um terço será para pagar dívidas, e uma parte irá para a poupança - disse o economista independente Bernard Baumohl, que, ainda assim, viu "benefício psicológico" na urgência do pacote.

Outra questão é que o dinheiro só deve chegar aos consumidores em meados do ano, já que o Fisco americano estará ocupado, até 15 de abril, com a entrega das declarações relativas a 2007. Com isso, os cheques podem não chegar no prazo previsto, de 60 dias.

- Esse pacote não terá efeito antes de vários meses - assegura Lawrence Mishel, presidente do Instituto de Política Econômica.

"Fortune": dólar cairá mais com novo corte de juros

Em Tóquio, o Nikkei teve sua maior alta em quase seis anos: 4,1%. Hong Kong subiu 6,73% e Xangai, 0,93%. Já a Europa foi afetada por preocupações com os lucros dos bancos ING e Fortis, cujos papéis caíram 5,2% e 10,9%, respectivamente. E a agência de classificação de risco Moody"s alertou para perdas de 90% em dois fundos de derivativos do ABN Amro, no total de 120 milhões. Londres recuou 0,12% e Paris, 0,76%. Já Frankfurt ficou estável.

Em Nova York, os mercados abriram em alta, em reação ao pacote e lucros corporativos. O Dow Jones chegou a subir 3%, mas fechou em queda de 1,38%. Apesar das medidas de estímulo, analistas acham que a turbulência deve continuar, pois os mercados ainda estão digerindo o impacto da crise imobiliária.

- Tememos o que pode acontecer semana que vem - disse Art Hogan, diretor de Estratégia de Mercado da Jefferies & Co. - O mercado está tateando em busca do fundo.

A revista "Fortune" alertou que um novo corte de juros pelo Federal Reserve (o banco central americano), no próximo dia 30, pode prejudicar a economia, pois os juros baixos afastariam os investidores do dólar, desvalorizando-o ainda mais, o que elevaria a inflação. Além disso, foi durante o último período de juros baixos que surgiu a bolha imobiliária.

O Nasdaq caiu 1,47%, e o S&P, 1,59%. Já o ouro atingiu um novo recorde, devido à paralisação de minas na África do Sul por problemas de energia: US$924,30 a onça-troy em Nova York, para depois recuar a US$910,70 (+0,54%).

No Brasil, o dólar comercial subiu 0,06%, para R$1,787, em dia de pouco movimento devido ao feriado do aniversário da cidade de São Paulo.