Título: Retomada da economia desacelera corte de juros
Autor: Nunes, Vicente; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 26/04/2009, Economia, p. 25

CONJUNTURA

Analistas acreditam que o Banco Central deve colocar o pé no freio e reduzir a Selic, no máximo, a um ponto percentual na próxima reunião

Diante dos frágeis, mas constantes sinais de retomada da atividade econômica, o mercado financeiro praticamente enterrou as apostas em torno de uma postura mais agressiva do Banco Central na condução dos juros. Se até duas semanas atrás havia um consenso de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria cortar, na próxima quarta-feira, a taxa básica (Selic) em 1,5 ponto percentual, repetindo o que fez no mês passado, a grande maioria dos analistas fala, agora, em queda de apenas um ponto com a possibilidade, ainda que remota, de recuo de 0,75 ponto. A Selic está em 11,25% ao ano.

¿Não vejo mais sentido de urgência na política monetária, como ocorreu logo depois do estouro da crise mundial. Os dados da economia brasileira em março e os sinais emitidos pela economia mundial, mostrando que a esperada hecatombe não se confirmou, indicam que o fundo do poço foi atingido e a recuperação da atividade foi iniciada¿, diz o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos. ¿Na reunião de junho, a Selic deve cair mais 0,5 ponto, ficando em 9,75% ao longo de 2009 e de 2010¿, acrescenta.

Desde que começou a reduzir a Selic em janeiro, o Copom derrubou a taxa em 2,5 pontos. E não restam dúvidas de que há um espaço enorme para que os juros no país testem o patamar histórico de um dígito. ¿Mas é melhor ir um pouco mais devagar, pois, assim, o BC não correrá o risco de ter que aumentar os juros novamente quando a economia estiver com o fôlego renovado¿, afirma o economista Elson Teles, da Concórdia Corretora.

Pressão Dentro do governo, a expectativa é enorme em torno de uma queda de 1,5 ponto percentual nos juros. ¿O BC precisa nos ajudar a espantar de vez o pessimismo. Certamente, o presidente Lula faria chegar à população a importância de o Brasil ter, pela primeira vez em muitas décadas, uma taxa de um dígito¿, ressalta um dos assessores mais próximos do presidente. ¿Não queremos fazer pressão sobre o Copom, mas com uma Selic de um dígito, o crédito ficará mais barato, sustentando o consumo e, principalmente, os investimentos produtivos, que resultarão em mais empregos¿, frisa. ¿Assim, a recessão será evitada de vez e ficará apenas nas previsões dos analistas¿, emenda.

Apesar da torcida do Palácio do Planalto, o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, diz que o governo tem responsabilidade no fato de o BC ir mais devagar no processo de baixa da Selic, ao ampliar demais os gastos públicos. Há pouco mais de uma semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução do superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida) de 3,8% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). ¿Essa diminuição do superávit primário não seria um problema se tivesse sido acompanhada do anúncio do corte de gastos e não porque a arrecadação caiu¿, assinala.

Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, endossa as apostas de queda de um ponto na Selic na semana que vem. ¿Considero prematura qualquer comemoração em torno de uma recuperação da economia. A questão nevrálgica do risco da atividade mundial ¿ a saúde do sistema financeiro mundial ¿ continua em xeque¿, afirma. ¿Uma coisa é a economia parar de cair, outra é acreditar em uma recuperação consistente¿, acrescenta.

Na avaliação do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da Consultoria Tendências, não se pode considerar uma redução de um ponto nos juros como pequena. ¿Trata-se de um corte significativo, que dará maior segurança à economia¿, sentencia. No entender da economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, em vez de ajudar, uma postura mais agressiva do Copom neste momento indicará que a situação da economia ainda é muito ruim. Para Demétrius Borel Lucindo, da Top Trade Investimentos, independentemente da queda da Selic na próxima semana, o importante é que o BC sinalize que os juros continuarão caindo porque ainda são elevados e fora da realidade.