Título: Brasil deve aumentar pressão pelo fim de subsídios agrícolas, diz Pascal Lamy
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 26/01/2008, Economia, p. 28

AMEAÇA GLOBAL: Protecionismo eleva riscos de reflexos da recessão nos EUA.

Segundo diretor-geral da OMC, setor relaxou devido a altos preços das "commodities".

DAVOS. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, fez ontem um apelo para que o setor de agronegócio do Brasil continue pressionando para a abertura mundial dos mercados agrícolas. Segundo ele, o setor está relaxando na pressão, confortável com a fase boa de alta de preços das commodities.

- O lobby dos produtores agrícolas do Brasil está batendo menos na mesa para acesso de mercado e redução dos subsídios. Se estivesse certo, a resistência do lobby agrícola em outros lugares também teria diminuído - disse.

Lamy alerta que o outro lado, entretanto - isto é, o lobby dos que não querem abrir o mercado agrícola -, continua mobilizado, porque está trabalhando com perspectiva de longo prazo. Eles sabem, segundo Lamy, que o ciclo do comércio internacional "é de 15 anos e não de dois anos".

- E é isso que os lobbies agrícolas têm que ter em mente: sim, os preços estão bons para os próximos cinco anos, mas podem não estar em dez anos. Estar certo que Estados Unidos, União Européia e Japão reduzam seus subsídios e tarifas tem um enorme valor para eles - insistiu.

E completou:

- Eu espero que eles (o lobby agrícola brasileiro) pensem a médio e longo prazo.

Ontem, em Davos, pairava uma outra preocupação: até que ponto a recessão nos Estados Unidos, com uma possível desaceleração em vários outros países, poderá estimular o protecionismo, isto é, a criação de barreiras ao comércio internacional? O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, fez um apelo para que países no mundo fechem menos suas portas ao comércio e aos investimentos. Isso ajudaria, segundo ele, a amortecer o risco de uma desaceleração.

- Precisamos ser menos protecionistas. Eu acho que há um perigo (de protecionismo). Vejo isso em partes da Europa - disse Brown, diante de uma platéia de líderes empresariais do mundo inteiro.

Amorim: conclusão de Doha é remédio contra crise

Pascal Lamy também alertou para o risco protecionista.

- Os riscos de protecionismo são maiores se houver uma recessão - disse Lamy, reforçando o argumento de que este é mais um motivo para negociadores fecharem um acordo para liberalização do comércio mundial.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, concorda: a conclusão de um acordo da Rodada de Doha, como são chamadas as negociações para abertura do comércio mundial, pode ser um remédio para uma recessão nos EUA. Negociadores dos grandes blocos, como União Européia, Estados Unidos, Brasil e Índia, estão se encontrando desde ontem em Davos para tentar desbloquear as negociações. E, além de recessão e protecionismo, outro fator preocupa: as eleições americanas. Negociadores temem que, se um acordo não for fechado este ano, antes do fim do mandato de George W. Bush, a conclusão da rodada pode ser adiada durante muitos anos.

A rodada, lançada em 2001, se arrasta há anos por causa de rachas entre os países, sobretudo quanto à abertura do comércio agrícola. Exportadores agrícolas, como Brasil, querem derrubar barreiras da Europa e dos EUA, mas estes alegam que já deram um passo nesta direção e que agora esperam que mercados emergentes derrubem suas barreiras ao comércio industrial e de serviços.