Título: Confronto racial na disputa pela Carolina do Sul
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 26/01/2008, O Mundo, p. 34

Bate-boca entre Hillary e Bill Clinton e Barack Obama aumenta temperatura nas primárias democratas no estado.

COLUMBIA, Carolina do Sul. Nas ruas de Columbia, repletas de cartazes de Barack Obama, é difícil encontrar um negro que confesse intenção de votar em Hillary Clinton. Desde o debate da semana passada na TV, que virou uma violenta troca de acusações pessoais entre os dois candidatos democratas, com John Edwards ora apoiando um, ora outro, a campanha nas ruas ganhou tons de confronto racial. A decisão será hoje, quando será realizada a importante primária no estado.

Na luta por um eleitorado com quase 60% de negros, os brancos têm medo de dizer em quem vão votar. E as conversas pegam fogo quando se trata de definir qual o candidato que fará mais pela comunidade negra, caso seja eleito. Muitos eleitores se dizem preocupados com a disputa racial. Pesquisa feita pela Public Policy Polling mostrou Obama com 44% das intenções de voto, Hillary com 24%, Edwards com 19% e 14% de indecisos.

Numa entrevista para o programa ¿Today Show¿, da NBC, Hillary reconheceu que seu marido pode ter ido longe demais nos ataques contra Obama, mas defendeu-se pelo tom do debate dizendo que havia apenas contra-atacado:

¿ Talvez Bill tenha se deixado levar pelo calor do debate. Suportei por meses os ataques de todos os adversários. Só que há uma hora em que é preciso se defender e contra-atacar. Não comecei as acusações, mas não vou deixar de responder quando me atacam ¿ disse Hillary.

O bate-boca entre Hillary e Obama tornou mais complicada a tarefa de Bill Clinton de reunir platéias negras.

`Parem com as brigas¿, grita eleitora democrata

Num comício na Claflin University, em Orangeburg, Bill Clinton disse que fazer campanha para Hillary estava sendo ¿mais difícil¿ do que para ele mesmo nas duas corridas presidenciais que venceu. Uma mulher, na platéia, gritou: ¿Parem com as brigas!¿

¿ Este é um bom conselho para Hillary. Aliás, este é um bom conselho para mim também ¿ disse o ex-presidente.

Enquanto Bill Clinton moderava o tom, Michelle Obama, mulher do senador de Illinois, fazia aparições-relâmpago em restaurantes e estabelecimentos comerciais de Columbia e Greenville, atacando os Clinton com um tom bastante áspero:

¿ Uma coisa já ficou clara nesta campanha: quando os Clinton encontram alguém que se opõe a eles e defende a mudança do poder entre os democratas, eles são capazes de dizer qualquer coisa para vencer a eleição. Estão fazendo jogo sujo nestas prévias, inventando mentiras sobre o passado de Obama ¿ disse Michelle, num restaurante em Greenville, para uma platéia de mulheres negras.

No confronto de parceiros conjugais que marcou o último dia de campanha antes da votação, Obama e Hillary voltaram a ser criticados por fazer da eleição uma espécie de plebiscito racial. A estratégia de Hillary, de passar a semana fora da Carolina do Sul, causou irritação nos políticos locais. Joe Erwin, presidente do Partido Democrata na Carolina do Sul, diz que ficou decepcionado com a ausência de Hillary no estado:

¿ Este era o momento em que os eleitores daqui teriam um contato mais próximo com os candidatos, mas Hillary preferiu enviar o marido e a filha para conversar com eles nos comícios. Isto foi muito decepcionante ¿ avalia Erwin.

Na quinta-feira, a campanha de Obama veiculou o seu primeiro anúncio em rede nacional e levantou uma onda de protestos de apoiadores de Hillary, acusando o senador de descumprir a trégua de campanha na Flórida, que tem votação marcada para o dia 29, mas foi punido pelo partido democrata por ter marcado a data da primária antes de 5 de fevereiro.

Ontem, o pré-candidato democrata Dennis Kucinich confirmou a sua desistência da corrida eleitoral para a Casa Branca. Ele tentará se reeleger deputado federal por Ohio.