Título: Fórum Social tem versão mais light desde sua fundação
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 27/01/2008, Economia, p. 33

Encontro mundial dá lugar a um dia de mobilização em cerca de 80 países para debater problemas regionais.

SÃO PAULO. No ano que começa marcado pela crise nos Estados Unidos - país que é símbolo do neoliberalismo -, o Fórum Social Mundial (FSM) promove sua versão mais light desde 2001, ano em que foi fundado. Em vez da concorrida reunião mundial das esquerdas, o evento que faz contraponto à reunião de Davos se concentrou em um dia de mobilizações locais em cerca de 80 países, com 838 atividades programadas para todo o dia de ontem.

Segundo os organizadores, o FSM não ficou mais brando, mas desistiu do encontro mundial neste ano para dar um mergulho nos debates sobre os problemas regionais e voltar mais intenso em 2009, quando ativistas de todo o mundo deverão se reunir em Belém (PA), inspirados no simbolismo da Amazônia, para discutir as alternativas para um mundo melhor e aumentar a oposição ao neoliberalismo.

- Essa crise americana é natural, previsível, típica da valorização da especulação financeira. Quem está mais empenhado em discuti-la e tentar salvar o modelo é Davos (Fórum Econômico Mundial, que termina hoje na Suíça). E como as crises do capitalismo são longas, teremos outras oportunidades para tratar do assunto - disse o educador Sérgio Haddad, um dos fundadores do FSM e coordenador da ONG Ação Educativa.

Considerado o criador do FSM, o empresário Oded Grajew disse que a descentralização do FSM em 2008 é uma estratégia que servirá para engajar mais pessoas no processo contra o neoliberalismo:

- Muitas pessoas concordam com as idéias do Fórum, mas não têm como ir aos encontros. Creio que, com essa descentralização, o Fórum ficará mais conhecido e mais amplo - disse Oded, membro do Conselho Internacional do FSM.

Outra fundadora, Maria Luísa Mendonça, da Rede Social de Justiça e também membro do Conselho Internacional, avalia que as mobilizações locais e regionais são acertadas.

- Além da itinerância do FSM (que, em outras edições, aconteceu em Índia, Venezuela e Quênia), essa descentralização amplia o processo que é o Fórum Social Mundial, porque ganha com as dinâmicas regionais - disse.

Ontem, dia chamado de "Ação Global" para manter o contraponto a Davos, o FSM teve mais mobilizações que debates. Foram realizados cerca de 800 eventos mundo afora. Quase todas as redes de organizações não-governamentais fizeram eventos, passeatas, protestos, oficinas e reuniões.

Fome na África e neonazismo em discussão

Entre os problemas discutidos, estão a fome na África, o neonazismo em alguns países europeus, a pena de morte nos EUA, migração e exclusão na Europa, a cultura das castas na Ásia, as guerras pelo mundo e o aquecimento global. A criatividade também é grande. Um desfile de carnaval em Belém (PA), apresentações de ópera na Itália, bicicletadas, ocupações de lojas de fast food e de plantações de transgênicos, passeatas e debates estavam previstos em quase todos os países inscritos.

- Este Fórum não tem um tema central, servirá mais para o lançamento de propostas. Evidentemente, as grandes redes de organizações mantêm o foco em temas como as guerras, a dívida externa dos países mais pobres, o aquecimento global. Mas estaremos também refletindo as lutas específicas de cada país - disse Maria Luísa.